Temperaturas elevadas devem ser consideradas por quem vai voar e alguns cuidados básicos devem ser tomados
Redação Publicado em 25/09/2023, às 17h00
Temperaturas elevadas, tempestades no fim do dia e pistas molhadas. Conheça os cuidados para operar durante este período quente do ano.
O verão nem chegou e as temperaturas no Brasil superam os 30°C e quem voa precisa se cercar de cuidados para lidar com condições climáticas extremas, como ventos, chuvas fortes e calor excessivo. Elas têm um impacto direto não apenas no voo, mas, também, e com igual influência, nas aeronaves paradas no solo.
Em primeiro lugar, as chuvas de verão, provocadas de forma isolada por nuvens cumulo-nimbos, o famoso CB, impedem, sim, a decolagem e o pouso de aeronaves quando estão desaguando sobre aeroportos, exigindo dos pilotos desvios de rota.
Nessas condições, é necessário alternar para evitar que a aeronave seja atingida por raios, pedras de gelo ou ventos intensos – que, em algumas condições, podem até derrubar uma aeronave.
No caso de pistas encharcadas, é também preciso avaliar o risco de perda de controle do avião por aquaplanagem (quando uma camada de água impede o contato dos pneus da aeronave com o solo).
Apesar da fama do verão em torno dos CB, há fatores associados à ação do sol que devem ser considerados. A começar pelo uso de óculos escuros por tripulantes e passageiros. Trata-se de um item obrigatório, principalmente quando estamos voando sobre as nuvens ou diretamente contra o sol na alvorada ou no crepúsculo.
O boné também é um acessório recomendável, porque pode ajudar muito a nos proteger da incidência direta do sol. Em aeronaves com tetos translúcidos, pilotos calvos podem sofrer queimaduras graves no couro cabeludo ao ignorarem a exposição direta da luz solar sobre a cabeça.
Em solo, o calor causado pelo sol forte também deve ser considerado por pilotos e proprietários de aeronaves. A incidência direta da luz e do calor nas aeronaves pode ressecar assentos em couro e revestimentos das laterais, manchar a pintura e, em casos mais sérios, até derreter os terminais que conectam instrumentos e equipamentos – já que os acabamentos escuros usados nos painéis favorecem a absorção do calor.
Em aeronaves fechadas por muitos dias aguardando o próximo voo sob clima quente e expostas ao sol, existe o risco de a temperatura interna da cabine sofrer aumento extremo, superando os 90 °C.
Nessas situações, o uso de protetores refletivos do lado interno da aeronave ou de capas externas que cubram toda sua fuselagem pode evitar danos ocasionados pelo calor. Mas é importante verificar com o fabricante da aeronave se há restrições de uso de ventosas nos para-brisas e vigias, principalmente no caso de aeronaves pressurizadas com sistemas antigelo. A utilização de materiais incorretos pode levar a delaminações, trazendo outros problemas.
Do ponto de vista operacional, o sol também tem influência direta sob o plano de voo. Em dias mais quentes, pode haver restrições imprevistas de peso por causa da diminuição da densidade do ar (que reduz a sustentação das asas e a eficiência do motor), sobretudo em aeródromos de elevada altitude.
Em voo, o sol também atrapalha a visão dos pilotos. Mesmo em pistas perfeitamente alinhadas, durante o nascer ou o pôr do sol, podemos ter problemas de segurança. Houve um famoso caso no aeroporto de Guarulhos em que um Airbus A340 vindo da Europa pousou em uma pista de táxi sentido cabeceira 27. Por sorte, não havia nenhuma aeronave na taxiway naquele momento e o episódio não teve grandes consequências. Ao entrevistar o piloto, a investigação concluiu que sua visão foi ofuscada pela névoa seca e os raios solares alinhados à pista. Para quem tiver curiosidade, o relatório dessa investigação está disponível no site do Cenipa.
Por fim, é importante lembrar que um tempo CAVOK, com céu de brigadeiro, não exime os pilotos de efetuar um planejamento adequado para o voo no que diz respeito não só à operação da aeronave em si, mas, também, a nossa saúde e nosso bem-estar a bordo.