Entramos no Antonov 225 e descobrimos o gigantismo da gigante aeronave
Redação Publicado em 15/11/2016, às 15h00 - Atualizado em 13/04/2019, às 17h53
Mesmo em uma segunda-feira chuvosa em Campinas e São Paulo, centenas de entusiastas da aviação se aglomeraram para ver de perto o Antonov AN-225, o maior avião do mundo.
O AN-225 impressiona com seus 84 metros de comprimento e uma envergadura de 88,4 metros e uma área alar de surpreendentes 905 m².
O gigante ucraniano, que deixa sua casa nos arredores de Kiev apenas três ou quatro vezes por ano, é uma atração em qualquer aeroporto, mesmo em seu lar. Construído no final da Guerra Fria, o AN-225 é um derivado do AN-124, com o qual compartilha grande parte da estrutura, incluindo a fuselagem, sistemas, motores e algumas seções das asas. Mesmo utilizando parte do projeto do irmão mais velho, o AN-225 está longe de ser uma versão estendida, como ocorre com modelos como o Boeing 747-8 ou o Airbus A340-600, que são versões alongadas do 747-400 e do A340-300, respectivamente. O enorme avião ucraniano surgiu como uma nova aeronave, tão única que por uma ironia do destino, com o fim da União Soviética se tornou literalmente o único avião do tipo. Um segundo modelo chegou a ser parcialmente construído, mas a crise financeira acabou tornando sua conclusão uma incerteza. Recentemente, o projeto foi negociado com a China, que poderá concluir a construção do segundo exemplar, que provavelmente será modernizado.
Mesmo esse único modelo acabou sendo modernizado no final da década de 1990. Com o colapso do regime soviético e a independência das repúblicas do bloco, a Ucrânia ficou sem recursos para manter o avião em serviço. Abandonado por quase uma década, em 1999 a Antonov Design Bureau resolveu modernizar a aeronave e disponibiliza-la para o transporte de super cargas. Uma série de mudanças foram realizadas, mas para quem está acostumado com aviões ocidentais recém-lançados, o AN-225 ainda surpreende pelos sistemas analógicos, excesso de tripulantes e um conceito oriundo do início da era do jato. Soluções hoje estranhas, mas que faziam todo o sentido para os soviéticos que buscavam modelos simples de construir e que seguissem os conceitos já existentes. Em resumo, não era necessário um avião moderno, mas, sim, um capaz de atender às necessidades do país.
Ao embarcar no avião, a primeira sensação é que internamente ele não difere muito de um Lockheed C-5, exceto por uns centímetros na largura e uns poucos metros no comprimento. Mas, basta uns minutos contemplando os 280 m² do salão principal para ter certeza que estamos diante de uma aeronave singular. São 4,4 m de altura, por 6,4 m de largura e nada menos que 43,3 m de comprimento. Ou seja, um volume de 1.300 m³. O interior ainda se destaca, como no AN-124, pelos guindastes a bordo: são quatro, com capacidade para 5 toneladas cada. Sim, o avião carrega “pequenos” guinchos para poder movimentar mais rapidamente cargas a bordo. Uma curiosidade é que ao contrário dos cargueiros do tipo, o AN-225 não conta com uma porta traseira, pois o objetivo não era o transporte tático, mas estratégico. O avião surgiu como uma solução para o transporte do ônibus espacial soviético Buran, em uma solução similar à adotada anos antes pelos norte-americanos, que levavam seu veículo espacial sobre um 747-100. Porém, dentro do conceito da Guerra Fria, nem tudo era o que parecia. Uma versão adaptada com AN-124, com cauda dupla, atenderia o programa espacial. Além de terem o desafio de criar algo maior que seus rivais no outro lado da cortina de ferro, os soviéticos queriam uma série de aeronaves que tivessem maior capacidade que o AN-124 para a movimentação dos mísseis balísticos R-36, que tinham 32 m de comprimento e três ogivas nucleares, pesando nada menos que 190 toneladas. Somente um avião de proporções gigantescas poderia fazer tal transporte. Atualmente, o AN-225 pode carregar até 250 toneladas de carga. Como comparação, um Boeing 747-8 vazio pesa 220 toneladas.
Assim como todos os aviões soviéticos, o AN-225 conta com soluções únicas. Embora poucos saibam, o avião possui dois decks, como o A380. A seção dianteira do deck superior inclui o cockpit, para nada menos que seis tripulantes técnicos (um comandante, um copiloto, dois engenheiros de voo, um navegador e um operador de rádio), seguido de uma área de descanso da tripulação com catorze lugares, além de forno micro-ondas, frigobar, armários, entre outros. A seção traseira do deck superior inclui uma completa oficina e espaço de descanso e trabalho dos demais membros da tripulação envolvidos com a operação em solo da aeronave.
O trem de pouso principal possui 32 pneus. Outro destaque, os pneus são os maiores já instalados em um avião de transporte, com 1270 x 510 mm de dimensão. Os tanques de combustível, treze no total, possuem capacidade para até 365 toneladas de querosene.