Companhias aéreas brasileiras registram forte recuperação em 2022

Apesar da alta nos custos e das dificuldades, as companhias aéreas brasileiras têm forte recuperação em 2022

Por Wesley Lichmann Publicado em 29/12/2022, às 12h55

Companhias aéreas brasileiras retomaram boa parte da capacidade durante o ano de 2022 - Divulgação

Após um dos períodos mais difíceis da indústria aérea, com milhares de aeronaves estocadas, rotas suspensas e sem uma projeção segura de retorno, as companhias aéreas brasileiras se reformularam e registram forte recuperação em 2022.

Com o avanço da imunização, barreiras sanitárias impostas durante o pico da crise sanitária se tornaram mais flexíveis, e as viagens, principalmente do segmento de férias e lazer, ajudaram na criação de receita, enquanto a demanda global por passagens corporativas ainda permanece bem abaixo dos níveis registrados em 2019.

As empresas brasileiras em um primeiro momento solicitaram ajuda governamental, mas as regras de empréstimos eram inviáveis. Assim, a Gol, Azul e Latam seguiram estratégias diferentes, mas todas buscaram soluções no mercado. Seja por meio de nova injeção de capital via empréstimos; pagamentos de dívida futura; ou abertura de capital ou pela lei de falências americana (conhecido como Capítulo 11) como protocolada pelo grupo Latam, que incluiu a unidade brasileira no processo.

As restrições em voos internacionais impuseram as companhias aéreas uma nova estratégia: a criação de novas rotas no mercado doméstico. As pequenas e médias cidades do interior se tornaram uma das grandes matrizes de geração de tráfego de passageiros e nova fonte de receitas. Com o aumento da capilaridade foi possível manter uma malha enxuta, eficiente e ajustada aos custos operacionais.

Segundo dados da ANAC, em outubro deste ano, o número de rotas domésticas oferecidas no país registrou crescimento de 12,5%, superando a malha disponível em relação ao mesmo período de 2019.

Ainda de acordo com a agência e a Embratur, a malha aérea internacional brasileira encerrará o ano com crescimento de 105,04% da capacidade, na comparação com mesmo período de 2019, superando os níveis pré-crise sanitária.

Em dezembro deste ano, o número de voos internacionais oferecidos no país será de 5.270, frente 4.981 operações realizadas no mesmo período de 2019.

Apesar da retomada dos voos domésticos, o aumento substancial do preço do combustível e a alta do dólar são os principais entraves para um crescimento sólido da aviação brasileira.

Os gastos com combustível representam 45% dos custos de uma companhia aérea brasileira. Nos últimos três anos o preço médio do querosene de aviação (QAV) registrou alta de 115%, com o litro passando de R$ 3,85 para R$ 5,50. No acumulado do ano, o preço médio do combustível registra alta de 49,6%.

Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), mostrou que o preço do QAV no Brasil custa 32,3% mais que nos Estados Unidos. Ainda segundo o levantamento, os preços nas refinarias brasileiras são 5,1% mais altos quando comparado aos valores cobrados no maior mercado de aviação mundial.

Com os custos atrelados ao dólar, o setor também foi impactado com a alta de 30% da moeda norte-americana em relação ao mesmo período de 2019, passando de R$ 3,95 para média de R$ 5,15.

No início de dezembro, em evento realizado no aeroporto de Congonhas, a Azul informou que as viagens corporativas está 12% abaixo dos níveis pré-crise sanitária, enquanto a demanda consolidada aumentou 6%. A empresa líder em destinos domésticos encerrará o ano com 30% de participação no mercado nacional.

A receita operacional da Azul será de US$ 16 bilhões, 40% maior do que a obtida em 2019. Para enfrentar os entraves classificados como “fora do controle”, por John Rodgerson, a companhia intensificou seu modelo de negócio no segmento de lazer, em rotas nacionais e na flexibilidade de sua frota. O número de destinos nacionais aumentou 45% nos últimos três anos, passando de 116 para 168. Totalizando assim cerca de 1.000 voos diários, ou seja, alta de 11% no comparativo.

A Latam possui a maior malha internacional do Brasil, com 21 destinos atendidos no exterior. A empresa deve encerrar o ano com 84% de sua capacidade internacional em relação ao pré-crise sanitária. O aumento consecutivo da oferta é resultado da eficiência alcançada após sair do processo de recuperação judicial, protocolado em 2020 na justiça norte-americana.

No mercado doméstico a unidade brasileira do grupo Latam encerrará o ano com 98% de sua capacidade, na comparação com o mesmo período de 2019. Nos últimos dois anos foram adicionados dez novos destinos a sua malha, com novos voos para Cascavel, Caxias do Sul, Presidente Pudente, Juiz de Fora, Petrolina, Vitória da Conquista e Sinop.

A Gol, companhia aérea com maior participação do mercado brasileiro, ampliou sua malha regional e continua modernizando sua frota com a adição de novos Boeing 737 Max. No acumulado de 2022, a oferta da empresa cresceu 55,4% quando comparado ao mesmo período do ano passado. A demanda aumentou 52,1% e a taxa de ocupação média foi de 80,3%.

Em dezembro, a empresa ampliou o programa de descentralização de voos internacionais, com o início das operações da rota entre Manaus e Fort Lauderdale. Além de Manaus, Brasília e Fortaleza contam com voos diretos para os Estados Unidos.

A parceria com a Passaredo, promoveu o aumento de novas cidades atendidas pela Gol em rotas regionais. Após consolidar suas principais bases, aumentou o acesso de voos internacionais com apenas uma escala ou conexão, principalmente nos voos com origem e destino nos aeroportos de Congonhas e Guarulhos, assim como Brasília.

O retorno tanto da oferta como demanda para os níveis pré-crise sanitária deve se consolidar em 2023. As viagens corporativas, uma das principais fontes de receita do mercado aéreo, devem ser restabelecidas ao longo do próximo ano. Apesar da alta dos custos e da deterioração do cenário econômico, é possível que as principais companhias aéreas brasileiras registrem bons números financeiros na busca por lucros.

A conjuntura dos últimos anos tornou o mercado aéreo brasileiro ainda mais desafiador, mas as empresas contaram com resiliência, flexibilidade e gestão aprimorada. Além disso, foram uma das poucas no mundo que não fizeram uso de dinheiro público durante a maior crise da história da aviação mundial. Ainda assim, as perspectivas para 2023 são bastante positivas.

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