A capacidade dos caças da Venezuela e como o Brasil pode se defender em uma hipotética guerra

Uma breve análise das capacidades aéreas de cada país e a probabilidade de ação em caso de conflito

Por Edmundo Ubiratan Publicado em 25/02/2019, às 00h00 - Atualizado às 13h35

Su-30MK2V da Venezuela estão entre os caças mais poderosos do mundo

A tensão na Venezuela tem aumentado a cada hora, com forças leais ao regime do ditador Nicolás Maduro e oposição entrando em constante confronto. O reconhecimento da ilegitimidade do governo Maduro por parte da comunidade internacional ajudou a incendiar o país e o temor de uma guerra civil se torna cada dia mais real.

Atualmente a Venezuela conta com uma modesta, mas sofisticada força aérea, que embora em números absolutos não seja capaz de enfrentar uma grande potência, como os Estados Unidos, possui relativo poder de combate. Na década passada, ainda sob o governo Hugo Chávez, a Venezuela iniciou um amplo programa de reequipamento militar, com destaque para a aquisição de armamentos russos, como caças Sukhoi Su-30MK2V, helicópteros Mil Mi-17, assim como baterias de misseis S-300, carros de combate T-72, entre outros. Além disso, o país ainda adquiriu alguns aviões de transporte chineses Shaanxi Y-8, que se adicionaram a frota de helicópteros Cougar e Super Puma, franceses, caças F-16 norte-americanos, e Tucanos, brasileiros, muitos adquiridos décadas atrás. Ainda que distante do poder bélico de grandes nações as forças armadas da Venezuela se destacam na região.

Venezuela possui aproximadamente 13 caças Sukhoi Su-30 em condições de voo

Todavia, a crise econômica refletiu na capacidade da Venezuela em manter todos seus meios militares em condições de voo.  Fontes militares e de inteligência apontam que apenas seis caças F-16A e um F-16B, estão em operação. Assim como apenas 13 Su-30 possuem condições de combate no momento. Com um total de 20 caças da sua linha de frente em serviço, a Venezuela teria grandes dificuldades em sustentar uma guerra regular, combatendo um país como os Estados Unidos. “Mesmo que a Rússia ou China estiverem dispostas a apoiar a Venezuela, é pouco provável que o país consiga se armar a tempo para uma guerra”, comenta o especialista em defesa Olavo Gomes.

Até a chegada dos Gripen NG Brasil conta apenas com F-5EM e A-1M, recém modernizados, e com limitada capacidade de combate

Outro entrave apontado é a incertezas das condições dos misseis e bombas venezuelanos. Parte do arsenal utilizados pelos F-16, de origem norte-americana, pode estar sem manutenção há vários anos e por tanto, sem condições de emprego. “Os armamentos de ponta exportados pela Rússia também podem não estar completamente operacionais”, diz Gomes.

Super Tucano foi criado para combate a aeronaves do narcotráfico e ações de guerrilha

Um hipotético combate com o Brasil, por ar, daria alguma vantagem aos venezuelanos em termos de capacidade técnica dos seus principais caças, que rivalizariam com os menos capazes F-5EM e A-1 (AMX), da força aérea. Ainda assim, um combate aéreo entre ambos os países é pouco provável, já que um eventual embate se daria por terra, na região de fronteira, basicamente entre forças do exército. “A maior defesa do Brasil é sua extensão territorial e a geologia da fronteira, que é formada por uma grande cadeia de montanhas e regiões de mata fechada”, considera Harry Goldfein, ex-analista militar. Um combate seria majoritariamente entre forças terrestres, com quase nenhum suporte mecanizado. E nisso o Brasil se destaca, já que o maior aliado nessa situação são os Super Tucanos que foram projetados para esse tipo de missão”. Os turbo-hélices de treinamento avançado e ataque, Super Tucano, foram desenvolvidos pela Embraer em parceria com a FAB, para permitir o Brasil atuar contra aeronaves do narcotráfico e eventuais guerrilhas em região de fronteira.

FAB conta com os helicópteros de ataque AH-2 Sabre, de origem russa, que estão entre os mais eficientes do mundo

Com um terreno acidentado e sem estradas, para permitir o uso intensivo de blindados, o Super Tucano pode ser um aliado fundamental para as forças brasileira. Combinados aos aviões de ataque leve, A-1, o Brasil superaria a defasagem da aviação de caça de primeira linha ao apoiar suas forças terrestres. Além disso, os helicópteros Mil Mi-35 (AH-2 Sabre) poderiam oferecer suporte extra aos soldados brasileiros.

O senão, é a capacidade venezuelana de responder as ações brasileira pelo ar. As baterias anti-aéreas S-300, estão entre as mais eficientes do mundo, assim como mesmo com número limitados, os caças venezuelanos possuem capacidade de defender as fronteiras sem grandes dificuldades.

A situação venezuelana so não permite uma hipotética invasão ao Brasil, já que envolveria uma complexa logística para manter extensas cadeias de suprimento e de suporte. Os caças Su-30MK2V possuem raio de ação de 1.500 km, o que permite decolar das duas principais bases venezuelanas e atingir alvos em Boa Vista e virtualmente atacar Manaus. Todavia, um ataque desses seria bastante limitado, pela falta de armamentos disponíveis e ao risco de perder os aviões em combate sobre território brasileiro. “Na realidade militar a Venezuela não dispõe de nenhum alvo primário no Brasil”, avalia Goldfein. “As baixas seriam civis, algo inaceitável na guerra moderna, o que dificulta a Venezuela desestabilizar militarmente e industrialmente o Brasil. Isso não impede que o governo Maduro pare de fornecer eletricidade para Roraima. Hoje sua maior arma”.

Comparativo de alcance entre os caças Su-30MK2V, da Venezuela (circulos Amarelo e Vermelho) e os caças brasileiros F-5EM (azul) e A-1 (verde). O raio de alcance foi baseado na operação dos aviões em suas respectivas bases, Luis del Valle Garcia e El Libertador (Venezuela) e Boa Vista (Brasil). e com tanques suplementares.

VENEZUELA

Sukhoi Su-30MK2V

Comprimento

21,9 m

Envergadura

14,7 m

Altura

6,36 m

Performance

Velocidade Máxima

Mach 2

Peso Máximo de Decolagem

34.500 kg

Carga Máxima*

23.000 kg

Alcance Máximo (sem tanques externos)

3.000 km

Alcance de Combate **

1.500 km

Armamentos ***

Canhão (1)

30 mm Gryazev-Shipunov GSh-30-1

Misseis Ar-Ar

R073, R-27 e R-77E

Misseis Ar-Terra

Kh-29T e Kh-59ME

Misseis anti-radiação

Kh-31P

Bombas Guiadas a Laser

KAB-500L e KAB-1500L

 

F-16 Fighting Falcon

Comprimento

15,06 m

Envergadura

9,96 m

Altura

4,88

Performance

Velocidade Máxima

Mach 2

Peso Máximo de Decolagem

19.200 kg

Carga Máxima *

12.000 kg

Alcance Máximo (sem tanques externos)

 

Alcance de Combate **

550 km

Armamentos ***

Canhão (1)

20 mm M61A1 Vulcan 6

Misseis Ar-Ar

AIM-7 Sparrow, AIM-9 Sidewinder, AIM-120 AMRAAM, IRIS-T,  Python-4 e Python-5

Misseis Ar-Terra

AGM-65 Maverick, AGM-88 HARM e AGM-158

Misseis Anti-Navio

AGM-84 Harpoon e AGM-119 Penguin

Bombas Guiadas a Laser

CBU-87, CBU-89, CBU-97, Mark 84, Mark 83,

Mark 82, GBU-39, GBU-10, GBU-12, GBU-24,

GBU-27, AGM-154

 

BRASIL

F-5EM

Comprimento

14,45 m

Envergadura

8,13 m

Altura

4,08

Performance

Velocidade Máxima

Mach 1.6

Peso Máximo de Decolagem

19.200 kg

Carga Máxima *

12.000 kg

Alcance Máximo (sem tanques externos)

1.400 km

Alcance de Combate (com tanque externo)

500 km

Armamentos ***

Canhão (1)

20 mm (0.787 in) M39A2

Misseis Ar-Ar

MAA-1 Piranha, AIM-9 Sidewinder e AIM-120 AMRAAM

 

A-1M (AMX)

Comprimento

13,23 m

Envergadura

8,87 m

Altura

4,55

Performance

Velocidade Máxima

565 nós

Peso Máximo de Decolagem

13.000 kg

Carga Máxima *

6.270 kg

Alcance Máximo (sem tanques externos)

889 km

Alcance de Combate (com tanque externo)

500 km

Armamentos ***

Canhão (2)

30 mm Bernardini Mk-164

Misseis Ar-Ar

AIM-9 Sidewinders, MAA-1 Piranha, MAA-1B Piranha II (em desenvolvimento) e A-Darter (em desenvolvimento)

 

RAIO DE AÇÃO

O raio de ação é baseado nos dados fornecidos pelos fabricantes e considera o raio de combate real. O raio de ação leva em consideração a capacidade de uma aeronave de decolar com determinada carga de armamentos mais o combustível necessário para decolar, subir até a altitude de voo de cruzeiro, voar até o alvo, atacar e retornar à base, sem reabastecimento em voo. Um raio de ação de 1.000 km significa que a aeronave tem condições de atacar um alvo distante, no máximo, 500 km, pois ela necessita ir e voltar. O alcance máximo é baseado na distância máxima que uma aeronave pode voar entre a origem e o ponto aonde chegará apenas com o combustível a bordo. Tanto o raio de ação quanto o alcance máximo são baseados no nível do mar e em condição ISA, portanto, é um dado teórico, que pode variar significativamente em condições reais. O raio de ação fornecido pela Sukhoi é de 1.500 km, voando numa altitude de 17.300 m (56.000 pés), com 5.270 kg de combustível e armado com dois mísseis R-27R1 e dois mísseis R-73E. Com dois reabastecimentos em voo, chega a 8.000 km.

CARGA MÁXIMA

É referente ao máximo de combustível e armamentos que pode ser carregados no avião. O equilibrio entre combustível e armamento é calculado em função da missão, variando assim a quantide e tipo de armamento instalado no avião.

ARMAMENTOS

Nos casos do Brasil e Venezuela, os aviões podem empregar uma série de armamentos, mas não necessartiamente ambos os países adquiriram tais itens. Em alguns casos varia também o número de mísseis, bombas e projéteis disponíveis para ser efetivamente utilizado em combate. A situação orçamentária dos dois países levou grande parte do arsenal vencer ou necessitar de manutenção.

FAB Sukhoi F-16 AMX Gripen F-5 Venezuela Gripen NG A-1 Su-30 Ah-2 Sabre Maduro Mil-35