A bordo do A350 XWB

Embarcamos no novo widebody da Airbus para seu primeiro voo de demonstração fora do protocolo de testes; aeronave deve estar cerficada antes do fim deste ano de 2014

Por Alexandre Coutinho, de Toulouse Publicado em 14/07/2014, às 00h00

Um curto voo de uma hora, sobre o sudoeste da França e a cordilheira dos Pirineus, foi suficiente para confirmar o comportamento em voo do novo Airbus A350 XWB. Aos comandos do protótipo número 2 do widebody francês, os comandantes Peter Chandler e Frank Chapman, respectivamente, piloto-chefe de testes da Airbus e piloto de testes do programa A350 XWB, conduziram o terceiro voo do A350 XWB (MSN002) com passageiros. A bordo, cerca de 200 jornalistas e profissionais de relações públicas de 50 países (sem bagagens), convidados na última hora para participar desta demonstração, além da equipa técnica, formada por Fernando Alonso, responsável pelos testes de voo e integração da Airbus, Patrick du Ché, chefe do programa de testes de desenvolvimento, e Sandra Bour-Schaeffer, engenheira de voo.

Após a decolagem, palmas na cabine, como se este fosse o primeiro voo do avião, tal era o entusiasmo. Com asas de perfis extraordinários e novos motores Rolls-Royce Trent XWB, o A350 deixou sem esforço o aeroporto de Toulouse-Blagnac e ganhou rapidamente altitude. O peso na decolagem era de 192 toneladas, das quais apenas 30 de combustível. A 4.570 m (15.000 pés) de altitude, o voo de demonstração incluiu algumas voltas suaves à esquerda e à direita, mas sem grandes movimentos sobre seu eixo longitudinal.Em menos de 15 minutos, o avião subiu aos 9.448 m (31.000 pés), onde se manteve em velocidade de cruzeiro. Surpreendem tanto a estabilidade de voo (mesmo com todos os passageiros em movimento na cabine) como o silêncio dos motores em todas as fases do voo, sem diferenças significativas no interior da cabine. Não por acaso a japonesa no assento ao lado, Utako Fujiso, acordou da sua sonolência só após a aeronave decolar (“coisas” do jet lag de quem acaba de percorrer meio globo só para estar em Toulouse a fim de voar no A350).


As poltronas da classe econômica possuem 45,7 cm de largura

Se o A350 XWB impressiona pelo seu design exterior – na opinião de muitos, o avião mais bonito já desenhado pela ­Airbus  o espaço interior, uma vez equipado de poltronas, galleys, toaletes e demais equipamentos, sim, perde magnitude para quem viu a fuselagem na montagem final, com os seus painéis em fibra de carbono reforçada (53% do total do aparelho é ­construído em Carbon Fiber Reinforced Polymer). Mas o verdadeiro Extra Wide Body (XWB) se reflete na largura de 45,7 cm das poltronas dos passageiros (2,54 cm mais que o habitual na classe econômica), o que faz toda a diferença, já que são nove poltronas em cada fileira, com dois corredores. Na classe executiva, as poltronas eram antigas e ainda não permitiam qualquer comparação com a versão que vai ser entregue à Qatar (a primeira companhia aérea a receber o A350), como não se cansavam de repetir os responsáveis da Airbus. “Este é um avião de desenvolvimento (flight test cabin). Atenção aos cabos estendidos ao longo da cabine e aos equipamentos e sensores. Não mexer e evitar verter líquidos sobre eles”.

De resto, janelas maiores do que as dos A330/340 e A320, toaletes de idênticas dimensões (só que mais estilizados e modernos), bagageiros maiores (com capacidade para alojar cinco malas de bordo), telas maiores nas costas da poltrona da frente (12 polegadas) e apoio de braço retrátil nas fileiras da frente. Os sistemas de entretenimento de bordo e wi-fi estavam desligados, mas as telas reproduziam imagens das câmaras de vídeo exteriores, na cauda do avião. A iluminação ambiente, do rosa choque, passando por todos as variações de azul ou pelas cores do arco-íris, não pôde ser devidamente apreciada, mas permite recriar atmosferas que preparam os passageiros para o sono e para um suave despertar, de acordo com as fases do voo.

Caça Rafale da Força Aérea Francesa escolta o A350 XWB

Rafale na escolta

Já sobre os Pirineus, outra surpresa: um caça Rafale da Armée del Air (Força Aérea Francesa) veio fazer escolta ao A350 XWB para delírio dos passageiros a bordo, que não se cansavam de tirar fotografias e fazer vídeos de todos os detalhes. Descida para 6.100 m (20.000 pés), antes da aproximação à pista de Toulouse-Blagnac, para um pouso sem problemas e sem acionamento do reverso. No rosto de todos, um enorme sorriso de satisfação, pelo privilégio de ter voado neste que foi o terceiro voo do A350 XWB com passageiros.

Visivelmente realizado, ­Fernando Alonso confidenciava que, ao contrário dos voos de teste do A380, “que foram um pesadelo, com constantes adiamentos e reagendamentos, no A350 tudo tem decorrido normalmente, mesmo considerando a coordenação necessária dos cinco aviões envolvidos no programa de testes.

Um ano após o primeiro voo (14 de junho de 2013), os testes de certificação do A350 XWB estão no cronograma previsto (mais de 70% do programa está completo), sendo que a obtenção da certificação deve ocorrer no terceiro trimestre de 2014, com entrada em serviço logo em seguida, no último trimestre deste ano. Os quatro primeiros A350 já acumularam mais de 2.000 horas em mais de 440 voos. A quinta aeronave, MSN005, decolou pela primeira vez no dia 20 de junho último, também equipada com cabine de passageiros e encarregada das provas de rota e da validação ETOPS (Extended Twin Engine Operations, ou Operações Estendidas em Bimotores), além de incorporar a configuração operacional definitiva para as tarefas de certificação do modelo.

“Queremos mostrar o avião o mais cedo possível aos clientes”, afirmou Patrick du Ché, ao confirmar que os pilotos da Qatar e da Singapore Airlines já voaram o A350. “Só tinham voado A330, mas, após um briefing de 10 minutos, estavam aptos a pilotar o A350”, frisou. “Os simuladores estão prontos e os pilotos já estão fazendo os treinamentos”, acrescentou Peter Chandler.

Depois dos testes de altitude em Cochabamba e em La Paz, na Bolívia, da passagem por um laboratório de temperaturas extremas na Flórida, nos EUA, e dos testes de ingestão de água e rejeição de decolagem, o A350 XWB (MSN003) terminou as provas em condições de altas temperaturas, nos Emirados Árabes Unidos. O objetivo dessas provas foi verificar o
comportamento dos motores e sistemas do avião perante temperaturas acima dos 40º C.

Airbus widebody Frank Chapman Peter Chandler bordo A350 XMB Rolls-Royce Trent XWB