Fabricante norte-americano inaugura Centro de Pesquisa e Tecnologia ao lado da sede da Embraer
Por Santiago Oliver, de São José dos Campos Publicado em 14/07/2014, às 00h00
A Boeing, maior indústria aeroespacial do mundo, mantém estreitos e ininterruptos laços com o Brasil desde 1932, quando entregou à aviação militar do país os caças F4B-4. Com o passar dos anos, aqueles biplanos foram seguidos pelos modelos 256, 267, Stearman, B-17G, 737-200, 707-320 e A-4 Skyhawk. Já no setor da aviação regular, em 1960, o fabricante norte-americano entregou à Varig o primeiro jato 707, que foi seguido pelos 727-100/-200, os 737-200/-300/-400/-500/-700/-800, os 747-200/-300/-400, os 757-200, os 767-200/-300 e os 777-200/-300.
Para consolidar ainda mais esse relacionamento de mais de 80 anos, em 4 de junho último, a Boeing inaugurou seu Centro de Pesquisa e Tecnologia no moderníssimo Parque Tecnológico de São José dos Campos (SP). Contando já com cinco centros semelhantes nos Estados Unidos, a unidade de São José dos Campos é a sexta fora daquele país – as outras ficam na Espanha, China, Índia, Rússia e Austrália.
A decisão da Boeing de se instalar em São José não foi por acaso. “O ambiente inovador do Parque Tecnológico de São José dos Campos, bem como sua proximidade das instituições de pesquisa parceiras, mais o apoio do município, fazem da cidade o lugar ideal para o trabalho de pesquisa e tecnologia da Boeing no país”, declarou Donna Hrinak, presidente da Boeing Brasil.
Já na cerimônia de inauguração, ela afirmou que como parte do compromisso de longo prazo da Boeing com o país, o novo Centro de Pesquisa e Tecnologia da Boeing no Brasil se concentrará em projetos colaborativos de pesquisa e desenvolvimento, além de projetos que beneficiarão empresas do Brasil e os brasileiros em geral. O Centro de Pesquisa e Tecnologia da Boeing no Brasil já definiu várias frentes de trabalho e fechou parcerias com diversas empresas e instituições de São José e do estado de São Paulo.
Com o DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial), estudará ciências de voo, energia e meio ambiente, materiais avançados, educação e treinamento em engenharia, assim como metais e biomateriais para aeronaves; gerenciamento avançado de tráfego aéreo; tecnologia de apoio e serviços; sensoriamento remoto, que é a aquisição de informações utilizando satélites e drones, além dos projetos com biocombustíveis sustentáveis.
Quanto aos biocombustíveis, a Boeing estuda a viabilidade comercial de produtos como a cana de açúcar, a soja e uma espécie de palmeira conhecida como macaúba. Em outubro de 2011, a Boeing, a Embraer e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) anunciaram um acordo de colaboração de longo prazo para pesquisa e desenvolvimento de biocombustíveis para aviação. Como resultado, está sendo desenvolvido um relatório lançado em junho de 2013, que foi intitulado “Plano de voo para biocombustíveis de aviação de aviação: plano de ação”. O documento descreve as oportunidades e desafios para a criação rentável, produção e distribuição no Brasil do biocombustível, feito de bioderivados.
“O biocombustível já é usado em alguns aviões, misturado com combustíveis tradicionais derivados do petróleo, pois o desenvolvimento da viabilidade comercial do biocombustível aeronáutico é um projeto promissor no Brasil”, afirmou Al Bryant, vice-presidente do Centro de Pesquisa e Tecnologia da Boeing no Brasil. “O uso do combustível verde não é feito em todos os aviões, não por problemas técnicos, como a adaptação de motores, mas, sim, pela oferta reduzida do produto”, completou o executivo. Algumas empresas fora do Brasil já vendem biocombustíveis para aviões, mas a produção não é feita em grande escala, e o objetivo da Boeing é tornar a produção em escala viável.
Para o desenvolvimento das pesquisas no Brasil, a Boeing fechou parcerias com empresas, universidades e institutos do governo. São parceiros a Embraer, a USP (Universidade de São Paulo), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial) e o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Os investimentos e a propriedade intelectual da tecnologia serão divididos entre a Boeing e os parceiros. No centro em São José, será feita a coordenação dos projetos, e a parte prática das pesquisas será desenvolvida nos laboratórios dos parceiros.
Quando a tecnologia estiver em um estágio mais avançado, a ideia é que se criem novos laboratórios onde se possam fazer testes nos aviões e desenvolver protótipos para que o produto venha a ser comercializado. A princípio, a Boeing vai contratar de 10 a 12 pesquisadores para gerenciar os projetos. Os profissionais são todos brasileiros. De acordo com crescimento das pesquisas, mais profissionais devem ser contratados.
“A inauguração deste centro é um marco na história de nossa cidade. Há quase 45 anos, nascia aqui a Embraer, empresa que se tornaria o terceiro maior fabricante de aviões do mundo. Agora, a Boeing, a número um do setor, também está oficialmente representada aqui. Isso é muito importante para o desenvolvimento econômico do município, mas também é estratégico para o estreitamento das relações entre Brasil e Estados Unidos”, disse Carlinhos Almeida, prefeito de São José dos Campos.
Já Paul Pasquier, vice-presidente de Tecnologia Global do Centro de Pesquisa e Tecnologia da Boeing, acredita que o Centro de Pesquisa e Tecnologia do Brasil vai se conectar às atividades de pesquisa que a Boeing tem em andamento em todo o mundo. “O Brasil possui alguns dos tecnólogos mais inovadores do mundo, e este será, com certeza, um catalizador para permitir uma colaboração global que beneficiará tanto o Brasil quanto a Boeing”.