Derivado do A330 o BelugaXL é uma versão mais nova, ainda maior e com mais espaço interno que o Beluga
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 23/07/2022, às 16h15
A Airbus realizou em 2018 o primeiro voo de seu novo supercargueiro, o Beluga XL, baseado no A330-200. Construído com o propósito de transportar componentes dos aviões do próprio fabricante europeu, o modelo de proporções mais robustas vai substituir a frota atual de A300-600 Super Transporter, ou Beluga.
A nova aeronave se destaca por sua enorme área de carga, com mais de 2.200 metros cúbicos, comprimento útil total de 45 metros e diâmetro de 8,8 metros. Como comparação, a fuselagem do A380, o maior avião comercial do mundo, tem 7,15 metros de diâmetro. Com isso, o modelo se revela o maior cargueiro especial da atualidade, superando até mesmo o Antonov An-225, que tinha cubagem um pouco menor.
A capacidade de transporte é de até 53 toneladas (ligeiramente inferior à do 747 Dreamlifter, da Boeing, que pode transportar até 60 toneladas), com alcance máximo de 2.200 milhas náuticas (4.070 km), suficiente para atender aos voos entre as unidades de produção da Airbus na Europa.
A Airbus estruturou sua logística e produção em diversas unidades instaladas em vários países da Europa, com destaque para as fábricas na Alemanha, na Espanha e na França, onde se produz a maior parte dos componentes da sua linha de produtos civis e militares. Com um território bastante acidentado, a Europa torna pouco viável o transporte de componentes de grandes dimensões por via terrestre, tornando o transporte aéreo o mais rápido e eficiente.
Desde a década de 1970, a Airbus utiliza alguns aviões especiais para transportar os componentes de suas aeronaves até sua linha de montagem final em Toulouse, na França, ou Hamburgo, na Alemanha. O mais famoso deles é o A300-600ST, popularmente chamado de Beluga, que deverá ser retirado progressivamente de serviço ao longo dos próximos anos.
Com o lançamento do A350 XWB, os engenheiros logísticos da Airbus se depararam com um grande problema, a necessidade de realizar múltiplos voos para transportar seções do novo avião. O maior problema diz respeito às asas, que são transportadas uma por vez nos atuais Belugas. Como referência, para produzir um A350 são necessários sete voos a mais do A300ST do que o necessário para construir um A320neo.
Embora a capacidade de transporte dos modelos atuais permita transportar até componentes do A380, os Beluga vêm mostrando sua limitação como cargueiro e já apresentam problemas operacionais no horizonte. Com mais de 25 anos de idade, o número de horas dedicadas a revisão do cargueiro se tornou mais constante. Normalmente, cada avião realiza em média cinco voos diários, basicamente em seis dias da semana. Apenas em 2017, os cinco Belugas acumularam 8.600 horas de voo.
Entre os desafios de construir uma nova família de supertransportadores estava a necessidade de utilizar toda a infraestrutura existente, incluindo as plataformas de embarque e desembarque de carga e os mesmos pátios. Para isso, os engenheiros optaram por utilizar a estrutura básica do A330-200, que permitiria ampliar a capacidade volumétrica do compartimento de cargas utilizando a mesma estrutura atual de apoio em solo. O projeto foi lançado em novembro de 2014, com a definição do conceito ocorrendo ao longo do ano seguinte.
Os engenheiros utilizaram a maior parte da estrutura do A330, contudo, modificando vastamente sua fuselagem, estabilizadores e asas. Além disso, para permitir a maior área possível no compartimento de carga, a cabine foi reprojetada em relação ao A330, ficando situada abaixo do piso principal. As primeiras seções chegaram à unidade da Airbus em Toulouse no início de 2017.
Se não tivesse sido enviado para uma linha de produção dedicada, qualquer um diria que
a seção central da fuselagem e as asas seriam utilizadas para montar um A330 convencional. Grande parte da estrutura chegou como se fosse para a linha de produção padrão, pois era necessário manter a integridade completa da estrutura em seu deslocamento entre a planta da Alemanha e a linha de produção final.
A conversão de uma aeronave de passageiros em cargueiro demanda uma complexa análise do alinhamento da fuselagem, que deve permanecer imóvel durante todo o processo. Sistemas e calibradores aferem milimetricamente e em tempo real o deslocamento da estrutura durante sua conversão.
A parte superior da seção central da fuselagem foi retirada, abrindo espaço para instalação da nova seção destinada à carga. O piso recebeu reforço e a cabine de comando teve de ser remanejada para uma nova posição, abaixo do piso principal. A construção da seção da cabine foi feita pela francesa Stelia, que projetou todo o conjunto, entregue à Airbus praticamente pronto. É a única seção pressurizada do avião, seguindo o projeto anterior do Beluga e da maioria dos aviões de transporte especial, como o veterano Boeing Guppy e o 747 Dreamlifter.
O estabilizador vertical foi redesenhado, ficando mais alto e mais longo do que o original do A330. Além disso, os engenheiros adicionaram dois estabilizadores laterais nos estabilizadores horizontais. Uma curiosidade é que a seção traseira da fuselagem é baseada no A330-300 e a seção dianteira, no A330-200. O objetivo foi manter o centro de gravidade otimizado.
Com a instalação da nova seção de cargas, a seção transversal do Beluga XL ganhou um volume 150% maior que o A330 padrão. A estrutura principal recebeu três anéis de reforços nas seções 33, 57, 67 e 77, onde anéis orbitais, além de conformar o desenho final da fuselagem, são responsáveis por receber grande parte dos esforços. Paralelamente, um sistema especial de junção foi projetado para permitir a união da seção inferior (original do A330) com a parte superior.
Uma curiosidade é que, embora o avião conte com amplo espaço, a maior parte não é pressurizada (e, portanto, sujeita a mudanças de temperatura), o que exigiu a instalação de sistemas de aquecimento, para evitar o congelamento ou mudanças de temperatura brusca nos componentes transportados.
Por sua semelhança com a baleia branca homônima, os funcionários da Airbus em votação escolheram pintar os olhos e a enorme boca na fuselagem, dando ainda mais sentido ao nome do avião. O novo BelugaXL é o modelo básico da frota da Airbus Transport International, enquanto os atuais A300ST Beluga serão utilizados em voos especiais ou oferecidos ao mercado como cargueiros especializados em grandes volumes.