Balanço 2014 consolidado

Números mostram um ano de expansão para o transporte aéreo mundial com resultados positivos para a maioria dos principais fabricantes tanto da aviação regular quanto da executiva

Por Edmundo Ubiratan Publicado em 25/03/2015, às 00h00

No balanço de 2014, os números mostram um ano positivo para a aviação civil em geral e para a regular em particular. No Brasil, mesmo diante das dúvidas que antecederam a Copa, o transporte aéreo de grande porte obteve um bom resultado, mantendo a tendência de crescimento registrada nos últimos anos, em detrimento da aviação geral, que sofreu com as restrições do mundial de futebol, embora a frota e a importância do segmento tenham crescido.

De acordo com a IATA (­International Air Transport Association), a demanda aumentou 5,9% em 2014 na comparação ao ano anterior, tornando-se o maior crescimento dos últimos 10 anos. Já a capacidade cresceu 5,6% enquanto o load fator (taxa de ocupação) subiu 0,2% atingindo a marca de 79,7%. Os dados da associação mostram um crescimento global, com destaque para as empresas da região da Ásia-Pacíficos e do Oriente Médio, que obtiveram desempenho superior ao restante do mundo. Apenas na China a demanda doméstica por voos domésticos cresceu 11% em 2014, mostrando que, mesmo diante da desaceleração econômica, o país continua obtendo resultados elevados.

O tráfego aéreo internacional obteve alta de 6,1% em 2014 no comparativo com 2013, enquanto a capacidade aumentou 6,4% e o load fator teve queda de 0,1% ficando em 79,2%.  O Oriente Médio continua liderando com crescimento de 13%, seguido da Ásia com 5,8%, América Latina também com 5,8%, Europa com 5,7%, América do Norte com 3,1% e África com 0,9%. Embora com crescimento menor, a América do Norte, por possuir um mercado sólido, mantém a maior taxa de ocupação, com 81,7%, mesmo tendo registrado queda de 1,1% em 2014.

O Brasil continua representando boa parte do tráfego aéreo na América Latina, que se manteve estável especialmente devido à estagnação da economia brasileira e a consequente redução nas viagens internacionais nos últimos meses de 2014. A taxa de ocupação na região subiu 0,8%, chegando a 80%. No mercado doméstico, porém, o Brasil registrou expansão em 2014 e obteve o seu maior nível para os últimos dez anos, com crescimento de 5,81%. A quantidade de passageiros acumulou crescimento de 6,6% em relação a 2013.


Phenom 300 foi o jato executivo mais entregue em 2014

Principais fabricantes

Os números positivos do mercado de aviação comercial explicam o crescimento dos principais fabricantes do mundo, como a Airbus, que fechou 2014 com receita de € 60,7 bilhões (US$ 65,9 bilhões), alta de 5% quando comparado a 2013, enquanto o EBIT teve alta de 54%, chegando à marca de € 4 bilhões (US$ 4,2 bilhões). Já o lucro por ação subiu 61% passando para € 2,99 (US$ 3,14) apesar do impacto negativo do Airbus A400M nas operações do grupo. A Airbus ainda ajustará a taxa de produção das aeronaves comerciais, projetando uma produção mensal superior aos 50 aviões na família A320, em 2017, enquanto o A330 deverá passar para seis aeronaves mensais no primeiro trimestre de 2016.

O ingresso de novos pedidos no grupo em 2014 foi de € 166,4 bilhões (US$ 180,7 bilhões), o que representou uma carteira total de € 216,4 bilhões (US$ 233,2 bilhões). A aviação comercial continua representando o principal negócio, com ingressos de € 42,3 bilhões (US$ 45,9 bilhões), seguido da divisão de defesa e espaço, com € 13 bilhões (US$ 14 bilhões) e helicópteros com € 6,5 bilhões (US$ 7,6 bilhões).

Em 2014, foram registradas 1.503 encomendas líquidas na aviação comercial, elevando a carteira de pedidos para 6.386 aeronaves comerciais. O pedido líquido da Airbus Helicopters foi de 369 unidades, incluindo 33 NH90. Porém, 2014 representou o primeiro ano sem encomendas para o A380, que segue com seu futuro indefinido, mesmo tendo pouco mais de cinco anos de produção garantidas por encomendas firmes. A Emirates Airline pede o desenvolvimento de uma versão remotorizada do A380 ou mesmo uma versão alongada, o A380-900, mas até o momento a Airbus não sinalizou qual caminho será adotado.

A Boeing encerrou o ano passado com receitas de US$ 90,8 bilhões, crescimento de 5% no comparativo com 2013, enquanto o lucro por ação aumentou 22% chegando a US$ 8,6. A empresa encerrou o ano com crescimento de 12%, atingindo 723 entregas na aviação comercial, ante 648 entregas em 2013. A receita total na aviação comercial foi de US$ 59,9 bilhões, alta de 13% quando comparado ao ano anterior. Já o segmento de defesa obteve receitas de US$ 13,5 bilhões, em 2014. A divisão de espaço e serviços somados registraram US$ 17,4 bilhões.

A unidade de aviação comercial da Boeing, mesmo registrando aumento de 15% no quarto trimestre e atingindo a receita recorde de US$ 16,8 bilhões no período, teve margem operacional de 9,3% em parte impactado pela diluição dos problemas do 787, que foi parcialmente compensado pelo volume de entregas registrado. Embora o 747-8 tenha registrado apenas dois pedidos em 2014, o modelo continua sendo uma incerteza para a Boeing, que no ano anterior havia acumulado 17 pedidos para o novo Jumbo. A continuidade da produção dependerá do ritmo de pedidos em 2015. Analistas acreditam que o modelo cargueiro poderá receber alguns novos pedidos ao longo do ano, mas existem dúvidas sobre a viabilidade de manter aberta a linha de produção com números tão modestos.


O brasil continua a representar boa parte do tráfego aéreo da américa latina

A receita do quarto trimestre para a divisão militar foi de US$ 3 bilhões, refletindo a já planejada redução no ritmo de entregas do C-17 e do F-15. Ainda assim, a margem operacional aumentou em 12,3%, refletindo o forte desempenho operacional no trimestre. A Boeing ainda registrou marcos importantes no período, como o primeiro voo de testes do KC-46 e a aprovação do Congresso para o financiamento de um lote de 15 EA-18G Growlers para a U.S. Navy (Marinha dos EUA).

A Embraer encerrou o ano com um total de 92 aeronaves comerciais e 116 executivas entregues, alcançando suas estimativas de entregas para 2014, com receita líquida de R$ 14,9 bilhões. O 4º trimestre representou a entrega de 30 aviões comerciais e 52 executivos, tendo a receita líquida atingido R$ 5,2 bilhões no período. Segundo o relatório divulgado ao mercado, o lucro líquido total foi de R$ 796,1 milhões e o lucro por ação ficou em R$ 1,0851. Já o caixa de 2014 ficou em R$ 6,4 bilhões e com a dívida líquida de R$ 224,2 milhões.

A estimativa da Embraer para 2015 é impulsionar as entregas estimadas entre 95 a 100 aviões comerciais, e entre 35 a 40 jatos grandes e de 80 a 90 jatos leves na aviação executiva. A expectativa para Embraer Defesa e Segurança é de receita entre US$ 1,1 a U$ 1,25 bilhão. A carteira de pedidos firmes (backlog) encerrou o ano em US$ 20,9 bilhões, atingindo 15% de crescimento se comparada aos US$ 18,2 bilhões ao final de 2013.

A canadense Bombardier encerrou o ano com receitas (apenas na divisão de aeroespaço) de $ 10,4 bilhões (US$ 8,13 bilhões). O lucro líquido no ano foi de $ 995 milhões (US$ 777,4 milhões), alta de 9,5% quando comparado a 2013. Enquanto o fluxo de caixa (com operações) foi de $ 478 milhões (US$ 373,5 milhões). Entretanto, a rentabilidade do segmento de aviação executiva teve margem EBIT de 7%, uma melhora de 1% quando comparado ao ano anterior. Já a aviação comercial, o desempenho foi negativo em $200 milhões (US$ 156,2 milhões).

Mantendo as perspectivas anteriores, a aviação executiva continua se destacando dentro do grupo canadense, com 210 entregas em 2014, enquanto a aviação comercial entregou 80 aeronaves.


O Citation M2 fechou o ano com 46 entregas

Aviação executiva

No mercado de aviação executiva, o GAMA (General Aviatio­n M­anufacturers Association) divulgou as entregas de aeronaves em 2014 por seus membros. Houve crescimento de 4,3%, com faturamento ultrapassando os US$ 24,5 bilhões. No ano passado, foram entregues 2.454 aeronaves, considerado o maior nível desde 2008, quando foram entregues 3.970 aeronaves. Segundo analistas, o número atual reflete a retomada dos negócios após sete anos da crise internacional que abalou o setor.

A categoria de aviões a pistão continua líder, com 1.129 entregas, alta de 9,6% no comparativo com 2013. Os jatos executivos tiveram incremento de 6,5% nas entregas, atingindo 722 aeronaves no ano passado, ante 678 em 2013. Já o segmento de turbo-hélices registrou queda no último ano, com 603 aeronaves entregues contra 645 de 2013. O pior desempenho ficou com a indústria de helicópteros, que viu suas entregas despencarem 24% em 2014, fechando o ano com 971, ante as 1.290 de 2013.

Os líderes de entregas foram aviões recém-lançados, como a família Learjet, que teve 34 entregas, sendo 33 dos modelos Learjet 70/75. O mesmo ocorreu com a família Citation, em que o M2 fechou o ano com 46 entregas e o Mustang com 8. A exceção foi o Phenom 300, que encerrou o ano com 73 entregas, o que o colocou como a aeronave executiva com mais entregas em 2014, a exemplo do que acontecera em 2013.

Já o segmento midsize e supermidsize obteve ligeiro crescimento, com 159 entregas em 2014, ante 140 de 2013. A categoria de jatos leves e superleves teve alta de 19%, atingindo 220 entregas em 2014, contra 185 do ano anterior. Os EUA continuam sendo o principal mercado para aviação geral, com 53% de todas as entregas de 2014, enquanto a Europa, mesmo em crise, absorveu 16% e a Ásia ficou com 13%, seguida da América Latina com 10,8% e a África com 5,9%.

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