Uma breve explicação de como o bombardeiro B-2 Spirit é praticamente indetectável por radares inimigos
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 11/11/2020, às 14h00 - Atualizado às 16h11
Bombardeiro B-2 Spirit é um dos mais avançados aviões militares de todos os tempos
O B-2 Spirit é um bombardeiro estratégico dos Estados Unidos, criado a partir do princípio de asa voadora, ou seja, a fuselagem e as asas são basicamente o mesmo corpo. Além de ser praticamente invisível aos radares inimigos, o avião se tornou o mais caro de todos os tempos. Cada unidade encerrou o ciclo de produção custando mais de US$ 2 bilhões. Ainda assim, é um marco no poder aéreo norte-americano.
Ainda que os Estados Unidos tenham sido pioneiros no uso de tecnologia furtiva em seus aviões, sendo até recentemente o único país a dispor de aeronaves com tais características, os estudos iniciais partiram justamente do seu maior inimigo histórico: a União Soviética.
Os estudos sobre ondas magnéticas não tinham grande importância estratégica nos meios militares. Tanto que os trabalhos sobre uma teoria simplificada nas correntes eletromagnéticas nas bordas de formatos geométricos, do físico soviético Pyotr Ufimtsev, estavam disponíveis para consulta pública
O trabalho havia sido publicado na revista do Instituto de Rádio Engenharia de Moscou e mostrava que a intensidade do reflexo (eco) das ondas de radar quando incidem em um objeto não dependem das dimensões e, sim, da natureza de suas bordas.
Os engenheiros da Lockheed, um dos principais fabricantes de aeronaves militares dos Estados Unidos, em posse de tal estudo passaram a avaliar a possibilidade de criar uma aeronave com uma estrutura composta por superfícies bidimensionais facetadas. O resultado foi a criação de um avião com uma sucessão de painéis planos, dispostos de maneira a organizar uma fuselagem. Assim o design básico do avião exigia que cada painel fosse monto no ângulo exato para refletir a radiação para longe da fonte emissora do radar. O resultado foi o exótico e sombrio F-117 Nighthawk.
Paralelamente, a Northrop estudava na década de 1970 os dados obtidos com o YB-49, que voará quase duas décadas antes. Os engenheiros perceberam que com a eliminação dos estabilizadores verticais e horizontais era possível criar uma aeronave com uma pequena área frontal e combinado com alguns ângulos retos era possível obter uma quase nula assinatura radar (RCS), ou seja, o quanto um avião emite de retorno ao radar inferior a 0,1 m².
O formato da fuselagem adotado pela Northrop no B-2 segue o conceito de placa plana infinita, e o desenho criado por computador que permite anular a assinatura radar em qualquer ângulo. O conceito, conhecido como curvatura contínua, emprega dados avançados na dinâmica de fluidos. Apenas o cockpit se pronuncia sobre a superfície, mas foi concebido após uma série de projetos experimentais comprovarem sua eficiência. A fuselagem foi construída com um arranjo de materiais que prevê um arranjo geométrico, incluindo do para-brisa, permitindo drástica redução RCS. Além disso, as entradas de ar do motor foram montadas sobre a fuselagem para anular a ação dos radares de solo e infravermelhos numa das áreas mais sensíveis do avião.
Caso um radar consiga detectar o B-2, frontalmente sua assinatura radar será de 10 cm². Como comparação, o RCS de um bombardeiro B-52 é de 100 m² e do caça Gripen, de aproximadamente 2 m². Uma área tão pequena é simplesmente ignorada pelo software do radar, visto que um RCS muito pequeno podem ser ocasionado até mesmo um pássaro, uma perturbação atmosférica, entre outros. Dessa forma, o B-2 se torna praticamente invisível para os radares inimigos.