Apesar da expansão da indústria de aviões experimentais no Brasil, evento em São José dos Campos mostrou-se pouco amigável aos visitantes que foram ou pretendiam ir voando
Por Maurício Lanza e Giuliano Agmont Publicado em 09/08/2013, às 00h00 - Atualizado em 10/08/2013, às 00h52
Mais de 80 aeronaves expostas mostraram a força da indústria de aviação geral leve no Brasil durante a 16ª edição da Expo Aero Brasil, realizada mais uma vez no aeroporto de São José dos Campos, interior de São Paulo, em julho último. Eram aviões e helicópteros à disposição de clientes de um nicho em franco crescimento no país, mesmo diante das incertezas determinadas pelas mudanças de regulamentação e indefinição do câmbio. “O que interfere nas vendas é a oscilação do dólar e do euro, mais do que a depreciação do real em si. Se a taxa estiver estável, o mercado tende a se ajustar”, avalia Luis Meyer, da Just Fly. Alguns negócios chegaram a ser fechados lá mesmo, mas o sentimento geral dos expositores foi o de que o evento não brilhou como devia.
A feira deste ano já aconteceu com o novo sócio que substituiu a Exponor Brasil e o espaço de exposição das aeronaves, embora menor no geral, estava muito bonito. Os problemas ficaram por conta da infraestrutura de atendimento ao público, sobretudo para quem atendeu ao convite de vir com sua própria aeronave. São José dos Campos oferece uma ótima estrutura hoteleira, é próxima a São Paulo e Rio de Janeiro e se caracteriza por sua tradição como polo aeronáutico, mas o local do evento tornou-se alvo de muitas críticas. Além das dificuldades para realizar voos de demonstração, tanto de modelos acrobáticos quanto de aeronaves expostas, houve problemas para que a feira recebesse visitantes que chegaram voando em seus próprios aviões.
Alguns simplesmente desistiram de pousar, relataram empresários que expunham na feira. Expositores aguardavam amigos e possíveis clientes com suas aeronaves e se revoltaram com a impossibilidade de recebê-los porque eles não puderam pousar por falta de espaço para estacionamento ou dificuldades no tráfego aéreo, já que se trata de um aeroporto de maior porte em relação a outros aeródromos mais amigáveis à aviação geral.
“A EAB deste ano aconteceu no sacrifício. Janelas acrobáticas vazias, infraestrutura de som totalmente ineficiente, área de estacionamento de aeronaves inexistente, algo que supostamente seria resolvido por conta das reclamações de outros anos, e uma inexplicável necessidade de dizer ‘não’ transformaram o evento num marco referencial digno de reflexão e impossível de esquecer”, desabafou Jonas López, diretor da Nova Aeronáutica, representante dos aviões Evektor no Brasil. “Para complicar, surgiu um Notam publicado na sexta-feira, no meio do evento, com validade a partir do domingo, justamente quando a maioria começaria a preparar o seu retorno para casa, fazendo com que todas as aeronaves presentes na EAB tivessem que conseguir slots para voltar a suas bases. A indignação geral se deu, mais do que por ter de se ausentar por horas dos estandes tentando reunir e fotografar os documentos das aeronaves, achar um computador para cadastrar usuários e senhas, agendar slots, receber senhas, ligar confirmando e assim por diante, mas, principalmente, pelo sentimento de total insignificância da aviação geral para as autoridades aéreas brasileiras”.
A indústria da aviação geral ainda está na fase de transição concedida pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para a fabricação em série de aeronaves experimentais. Esse período de transição vai até o final de 2014 (para todas as aeronaves – as que se enquadram na categoria Ligh Sport Aircraft, quadriplaces, asas rotativas etc.) e o final de 2016 (somente para as aeronaves que se enquadram na categoria LSA), quando os fabricantes deverão já ter se certificado na nova legislação LSA para poder continuar produzindo aeronaves prontas, caso contrário deverão apenas produzir os kits para construção amadora.
Várias empresas com produtos e serviços voltados para a aviação leve participaram da EAB com estandes e demonstrações. Motores aeronáuticos, ferramentas, equipamentos de testes, acessórios para pilotos, seguros aeronáuticos e materiais educativos atenderam o público ávido que buscava encontrar reunidas num só espaço soluções para suas necessidades operacionais ou de construção. Tradicionais fabricantes também marcaram presença, como a Edra Aeronáutica, a Inpaer, que fez o pré-lançamento de seu novo avião, o Explorer, a Volato, que promete lançar em breve o biplace Volato 200, a Quasar, a Paradise, a Aerocentro e a Flyer, além de importadores como a Just Fly, que traz o LSA CTLS, da Flight Design, e a Nova Aeronáutica. Outras novidades foram o anfíbio Seamax com asas dobráveis, o monomotor Bumerangue EX-27 Cross Country, fabricado pela mineira Fabe em configuração canard, e o Cessna Centurion remotorizado e com aviônica glass cockpit da Hangar 10. No setor de asas rotativas, a única empresa a expor helicópteros foi a Audi, com o Robinson R-44 e o novo monoturbina R-66. Além da aviação experimental, algumas empresas apresentaram aeronaves certificadas, como o P-68R da Vulcanair e o P2006 da Tecnam, este representada pela Flyer, ambos bimotores de asa alta, o primeiro para seis ocupantes e o segundo para quatro.
Os shows aéreos ficaram a cargo dos voos solo de Tike Bazaia, com seu Decathlon, Beto Bazaia, com seu Buecker, e Lucas Bonventi, com o Pitts. Alguns pousos e decolagens de aeronaves militares (como o C-130 e o C-295 da FAB) e civis (como o Embraer E-175 da American Eagle) também atraíram a atenção do público aficionado.