Brasil contribui com programa de produção de aeronave de treinamento sul-americana
Redação Publicado em 17/06/2014, às 12h53 - Atualizado às 13h02
Foto: SiBCI
Autoridades do Brasil, Argentina, Venezuela e Equador se reuniram nas instalações da FAdeA (Fábrica Argentina de Aviões), em Córdoba, para conhecer de perto o desenvolvimento da primeira aeronave conjunta da UNASUL (União Sul-Americana de Nações). Oficialmente o desenvolvimento do projeto tem o objetivo de fomentar a integração continental e fortalecer a indústria de Defesa na América do Sul.
A aeronave será utilizada pelas forças aéreas sul-americanas para treinamento primário básico. Segundo dados oficiais, os países envolvidos no consórcio já levantaram os requisitos técnicos indispensáveis ao avião, entrando agora na fase inicial de prospecção de financiamento. No Brasil, o dinheiro deverá vir do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
“Entramos na fase pré-contratual e estamos encerrando os requisitos técnicos, logísticos e industriais do sistema. Depois disso poderemos realizar o contrato de desenvolvimento”, explica o coronel Ricardo Roquetti, representante do Ministério da Defesa no comitê técnico e no escritório gerencial do consórcio responsável pela produção da futura aeronave.
Para viabilizar o projeto, será criada no próximo semestre a sociedade anônima “UnasurAero”, que permitirá que as empresas envolvidas no projeto possam ser contratadas. Atualmente quatro empresas brasileiras participam do projeto: Novaer, Akaer, Flight Technologies e Avionics.
“Os países envolvidos vão fazendo os pagamentos por etapa para a Unasur Aero, que posteriormente vai contratando as empresas com relação aos seus pacotes de trabalho”, explica o coronel Roquetti.
De acordo com o coronel, o Brasil deverá colaborar com cerca de 62% dos subsistemas. A fase de desenvolvimento do projeto terá um custo aproximado US$ 60 milhões. Com isso, pelo menos US$ 36 milhões serão destinados às empresas brasileiras. As empresas argentinas deverão participar com 28%, e as equatorianas e venezuelanas com 5% cada.
Segundo nota oficial do Ministério da Defesa, o projeto se apresenta para o Brasil como uma oportunidade de consolidar sua liderança regional. Em especial permite as empresas nacionais se firmarem num mercado com forte influência de empresas russas, chinesas e israelenses.
No entanto, especialistas criticam o envolvimento do Brasil, que possui uma indústria aeronáutica desenvolvida e possui projetos próprios em andamento. Além disso, alertam que projetos anteriores de cooperação multinacional tiveram impacto negativo para o Brasil.
“O CBA-123 ainda é um exemplo de programa mal administrado e com impacto severo na indústria brasileira” relembra Ricardo dos Santos, analista financeiro “Além disso, esse mercado é inexpressivo do ponto de vista internacional. São aeronaves de baixo valor agregado e com pouco apelo tecnológico”
Atualmente o programa conta com a expectativa de receber até 92 pedidos, sendo 18 aeronaves para o Equador, 24 para a Venezuela e 50 para a Argentina. O Brasil não deverá encomendar nenhum avião, já que o programa de substituição dos T-24 Universal ainda não foi definido e existe o interesse de priorizar projetos 100% nacionais.
“Ingressar num programa com parceiros com sérias dificuldades econômicas poderá ser um erro gravíssimo” pondera Olavo Gomes, consultor aeronáutico “A Argentina acaba de ser condenada pela corte americana nos casos contra fundos especulativos. É um parceiro sem recursos e tecnologia” conclui.
As empresas de cada país terão participação especifica no projeto, sendo que as industriais brasileiras estarão envolvidas com as asas (Akaer), trem de pouso (Novaer) sistemas de aviônico e eletrônicos (Avionics e Flight Tecnologies). As empresas argentinas serão responsáveis pelas portas, hélices, montagem de motor e assentos ejetáveis.
Por ora, Equador e Venezuela, participação do processo de desenvolvimento, sem ainda ter sido definido quais itens serão produzidos ou projetados localmente.
Mesmo sob polemica, o projeto está alinhado com a END (Estratégia Nacional de Defesa) e o com as diretrizes do Ministério da Defesa no esforço de fortalecimento da cooperação regional.