Argentina apreende Boeing 747 venezuelano por suposta espionagem

Autoridades argentinas apreenderam um Boeing 747 operado por empresa da Venezuela e com tripulação iraniana

Por Edmundo Ubiratan Publicado em 13/06/2022, às 15h17

Boeing 747-300 venezuelano transportava carga de componentes automotivos entre o México e a Argentina - Governo da Argentina/Sebastian Borsero

As autoridades da Argentina apreenderam um Boeing 747-300 cargueiro registrado na Venezuela, mas que estava voando com tripulação iraniana. Um dos temores é que o avião tenha voado para Buenos Aires como parte de uma missão de inteligência (espionagem).

Um dos pilotos, o comandante Gholamreza Ghasemi, é procurado pela justiça dos Estados Unidos, acusado de fornecer armamentos para grupos terroristas, especialmente aos vinculados à Guarda Revolucionária Islâmica do Irã.

O avião, de matrícula YV3531 está em uma lista de aeronaves banidas pelo Office of Foreign Asstes Control (OFAC), dos Estados Unidos. O Boeing 747, adquirido pela iraniana Mahan Air de forma ilegal, foi repassado para a Emtrasur, da Venezuela há um ano. A Mahan Air está sob sanções dos EUA desde 2011 por seu apoio à Guarda Revolucionária do Irã.

El nombre más interesante en el avión venezolano (YV3531) es Gholamreza Ghasemi dado que coincide con el nombre de miembro del Guardia Revolucionaria Islámica de Irán y administrador de Fars Air Qeshm, aerolínea iraní que usa 747 para traficar armas a grupos terroristas. pic.twitter.com/kSsSW2ZrWP

— Andrei Serbin Pont (@SerbinPont) June 12, 2022

Todavia, mesmo recebendo registro da Venezuela, parte da tripulação continua sendo iraniana, algo proibido pelas regras internacionais.

No dia 5 de junho, o avião com 19 tripulantes, sendo 14 venezuelanos e cinco iranianos, decolou do aeroporto mexicano de Querétaro, para Ezeiza, em Buenos Aires, transportando uma carga de componentes automotivos. Após problemas meteorológicos na capital argentina, o avião alternou para Córdoba, onde pousou no dia 6 de junho, sem maiores problemas. Após reabastecer, e com a melhora no clima em Buenos Aires, o avião seguiu para seu destino final.

Já no dia 8 de junho o plano de voo previa uma escala técnica em Montevidéu, no Uruguai, para reabastecimento, ante de voar para Caracas, na Venezuela. O plano e voo, aparentemente aceito pelas autoridades argentinas, foi interrompido com o avião já no ar, quando as autoridades do Uruguai negaram o ingresso do avião em seu espaço aéreo, sob argumento que o 747 está sob sanções impostas pelo OFAC.

O governo do Uruguai temia que a autorização de ingresso do avião em seu espaço aéreo, sobretudo com reabastecimento em Montevidéu, pudesse trazer problemas diplomáticos ao país.

“Colaborar com objetivos sancionados pela OFAC cria o risco de receber sanções e em alguns casos de ser listado como cooperantes com organizações ligadas ao terrorismo internacional”, destacou Rafael Resnick Brenner, advogado uruguaio em entrevista ao jornal El Observador.

O avião realizou suas órbitas sobre o Rio da Prata, na divisa entre a Argentina e o Uruguai, quando retornou para Ezeiza. Ainda que o governo argentino não tenha, ainda, confirmado a apreensão do Boeing 747, um documento do Ministério do Interior, obtido pela agência Reuters, afirma que as autoridades tomaram a medida após suspeitas sobre o motivo declarado da entrada do avião no país.

Uma das suspeitas é o grande número de tripulantes, com 19 pessoas em um voo que usualmente teria entre dois e cinco pilotos.

Os cinco tripulantes iranianos tiveram seus passaportes retidos, enquanto os venezuelanos foram liberados para retornarem para seu país de origem em voos comerciais.

É possível que os Estados Unidos peça a extradição dos iranianos envolvidos com terrorismo, embora analistas acreditem ser pouco provável que o governo argentino apoie tal pedido.

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