Saga do avião inclui voos de testes, mudança de motor e 49 mil horas nos céus do mundo
Por Edmundo Ubiratan e Ernesto Klotzel Publicado em 18/09/2018, às 16h00 - Atualizado às 17h37
Após 24 anos de voo, sendo seis deles como protótipo, o primeiro Boeing 777 se torna item de museu. O avião que desde 2000 voa pela Cathay Pacific Airways, de Hong Kong, chegou hoje aos Estados Unidos, onde ficará em exibição no Pima Air Space Museum, em Tucson, Arizona.
O Boeing 777-200 doado (B-HNL) foi construído em 1993, como o primeiro protótipo da consagrada família 777.
O avião, na época matriculado como N7771, realizou seu primeiro voo em junho de 1994, sob os comandos dos pilotos John Cashman and Kenny Higgins. Após cumprir a rigorosa rotina de voos e ensaios destinados a certificação, o N7771 ao lado dos demais protótipos passou a realizar voos de demonstração e validação ao longo de seis anos.
A Cathay Pacific foi uma das primeiras companhias aéreas que forneceram informações para o desenvolvimento do 777, repassando dados pouco usuais a Boeing, muitos considerados estratégicos. Isso deu à companhia aérea de Hong Kong uma oportunidade única de aperfeiçoar os recursos do avião para atender às suas necessidades. Entre as solicitações, estava a seção transversal da cabine semelhante à do Boeing 747, uma moderna cabine de comando dentro da filosofia digital, sistema fly-by-wire e custos operacionais mais baixos.
Uma das curiosidades do N7771 é que ao concluir sua campanha como protótipo e demonstrador, o avião teve seus motores Pratt & Whitney PW4074 substituídos pelos Rolls-Royce RB2111, utilizados pela frota da Cathay Pacific. A substituição de um fabricante de motor é extremamente raro, visto que exige uma complexa reengenharia dos sistemas de combustível, eletrônicos e reprogramação dos softwares do avião. A substituição só foi possível por se tratar de um protótipo, sendo inclusive o projeto utilizado para estudar a viabilidade de oferecer tal opção ao mercado.
Em dezembro de 2000 o avião foi oficialmente entregue a Cathay. Ao londo de 18 anos, o avião realizou 20.519 voos e acumulou 49.687 horas de voo. A última configuração de cabine incluía 42 assentos de classe executiva e 293 na econômica. Seu derradeiro voo comercial ocorreu em maio, quando foi retirado de serviço. Nos últimos meses a empresa aérea realizou os serviços de manutenção e retirou uma série de itens da aeronave, preparando o histórico 777 para sua última viagem.
O B-HNL foi um últimos 777-200 da versão original ainda em serviço, já que a maioria dos modelos em operação são da versão ER (Extended Range), que permite voar distancias mais longas e com maior peso de decolagem. A primeira geração foi concebida para realizar voos domésticos nos Estados Unidos, especialmente entre as costas leste e pacífica. Assim, como voos no Atlântico Norte, ligando os Estados Unidos e a Europa, em etapas com duração média de 7 horas.
Ao longo de quase 25 anos o 777 se tornou um divisor de águas na aviação comercial, sendo a espinha dorsal da frota de longo curso de dezenas de empresas aéreas ao redor do mundo. Um dos destaques do modelo é ser impulsionado por apenas dois motores, oferecendo uma capacidade de transporte e alcance similar ao do Boeing 747-400, que utiliza quatro motores. A redução no consumo e no custo operacional tornou o 777 um matador dos modelos quadrimotores, como o Airbus A340 e Boeing 747. Seu rival, o Airbus A350 XWB forçou a Boeing a desenvolver uma nova geração do Triple Seven, conhecida como 777X, que deverá iniciar suas operações nos próximos dois anos.
Protótipo de ensaios estáticos do novo 777X deixou a linha de montagem em 8 de setembro.
Agora o veterano e pioneiro 777 ficará exposto ao lado de quase três centenas de aeronaves, incluindo o Boeing 787-8, que já tem um exemplar preservado no Pima Air Space Museu. O museu reúne parte das aeronaves estocadas no Davis-Monthan Air Force Base, com um dos maiores acervos aeronáuticos do mundo, incluindo aeronaves comerciais, militares e da aviação geral.