Estreamos nossa avaliação de viagem com voos de ida e volta de Guarulhos para a capital italiana
Por Christian Burgos Publicado em 04/10/2015, às 00h00
Há anos, as revistas da Inner Editora, dentre elas AERO, demandam um intenso calendário de viagens. Paralelamente, percebemos na interação com leitores um anseio por dicas de viagens, o que inclui a indicação das melhores salas VIPs, cabines de passageiros, companhias aéreas, programas de milhagem e assim por diante. Buscando atender a essa expectativa, percebemos que é possível fazer algo distinto do que existe, numa fórmula que captura o melhor dos modelos de avaliação de serviços em outras indústrias e o combina com o conhecimento e experiência de AERO. Eis alguns destes diferenciais:
1º - Não recebemos as passagens das companhias aéreas, para poder agir com total independência.
2º - Não nos identificamos, nem informamos que estamos fazendo uma avaliação.
3º - Para nós, a experiência de voo vai muito além da experiência no voo.
4º - Acreditamos que este conjunto de itens que compõem esta experiência tem peso distinto na avaliação geral do passageiro.
Uma viagem com a Alitalia marca o primeiro de nossos “flight checks”, que passam a fazer parte da pauta de AERO Magazine. Ficaremos muito felizes se você compartilhar suas opiniões no espaço de comentários ao fim de cada matéria em nosso site.
Na virada de agosto para setembro, fizemos o voo AZ 675 de 9.441 km (5.866 milhas) entre São Paulo/GRU e Roma/FCO no assento 02H da classe business. Iniciamos nossa experiência de voo no domingo dia 30 de agosto às 12h45 com check-in no Terminal 3 do Aeroporto Internacional de São Paulo - GRU Airports. Nos últimos 12 meses, utilizei o TP3 pelo menos 11 vezes e é desnecessário comparar sua superior infraestrutura com a dos terminais antigos de Guarulhos.
O check-in da Alitalia fica no final esquerdo do TP3 e estava tranquilo tanto na business quanto na econômica. • Atendimento profissional e cordial com informação clara sobre a localização da sala VIP, que é compartilhada com outras companhias, a chamada Executive Lounge GRU Airport.
O atendimento à entrada é muito bom no tocante aos quesitos gentileza e informação. A sala é espaçosa, com poltronas confortáveis, e oferece boa quantidade de mesas para se trabalhar. Boa quantidade também de tomadas para carregar as baterias dos eletrônicos para o voo ou para que não descarreguem. Um ponto negativo é a velocidade da internet. Considerando que estávamos perto da hora do almoço, a comida do buffet é de boa qualidade, ainda que bastante simples. No que tange às bebidas alcoólicas, merecia um upgrade, sobretudo em relação ao vinho servido. Os banheiros da sala VIP são bastante modestos e negativamente coletivos, longe das usuais e convenientes cabines individuais de outros lounges até do próprio TP3. Há a possibilidade de tomar banho, mas não fizemos uso do serviço.
De lá seguimos para o portão 42/43 para o embarque, que transcorreu muito bem. • No avião, um Boeing 777-200ER, encontramos uma das melhores configurações de business (1/2/1). Ali todos os passageiros têm liberdade de fluxo sem incomodar ninguém ou praticar “salto com barreiras”. Além disso, no centro intercala poltronas próximas (ideais para casais) a outras com ampla separação, garantindo privacidade para quem viaja sozinho mesmo nas fileiras do meio.
O kit criado em cooperação com Salvatore Ferragamo dá um toque de classe aos usuais itens do estojo de toalete, dentre os quais estão creme de barbear, body lotion e creme facial, meias e aparelho de barbear, além do kit para escovar os dentes e de uma amostra do novo perfume da marca.
A poltrona é confortável e pode ser reclinada horizontalmente. Ótimo para dormir, assistir à TV ou ler (a lâmpada individual com haste flexível é muito boa). Para comer ou trabalhar, a posição da mesa é um ponto de destaque, pois está fixa à poltrona da frente e nos permite levantar sem ter de guardar computadores, taças e até mesmo a louça do serviço de jantar já montado. A poltrona move-se para frente a fim de ajustar-se à posição da mesa de maneira muito confortável. Um ponto negativo é a posição do berço do controle remoto justo no encosto de braço, o que acarreta toques involuntários nos botões. A dica é manter o controle fora do berço e acima do aparador lateral. Nas fileiras centrais para não casais e janelas pares você fica mais exposto ao corredor.
O aperitivo era simples, mas encantou pela bela apresentação, além de estar muito bem feito. Uma torrada com salmão e um espetinho de azeitonas, mussarela de búfala e tomate cereja com um toque oriental. Acompanhei com um vinho branco Pinot Grigio IGT Delle Venexie Torlasco-Tosti 2013, que foi servido na temperatura correta para os europeus em uma taça muito boa da marca Richard Ginori, que eu não conhecia. Achei ideal para aeronaves, por ter uma dimensão menor, mas adequadamente fina e com bela estética. O Pinot Grigio receberia nota 87-88 na revista Adega, que também editamos (www.revistaadega.uol.com.br). Bom aroma a pêssego e flores, e em boca se mostrava fresco, com frutas maduras (abacaxi), boa acidez e bom volume de boca.
A entrada fria foi razoável, camarões reais com batatas em cubos e cenouras, todos cozidos. O pão também deixou a desejar e a manteiga era bem simples.• Mantive o Pinot Grigio e funcionou. Como prato principal, escolhi o bife de atum à sanremese, um steak de atum acompanhado de batatas assadas e abobrinhas assadas com espinafre refogado. Estava muito bom, sobretudo o espinafre e as abobrinhas. Saboroso e leve ao mesmo tempo.
Este vinho tinto que guardei para a seleção de queijos receberia 90 pontos em Adega: Rubiro Montepulciano D’Abruzzo DOC Rocca Dei Bottari 2012. Com boa fruta e deliciosa estrutura em boca, com frutas frescas, taninos vivos e alegre acidez. Um vinho fresco servido na temperatura perfeita, sem passagem por madeira, vinoso e com toques a terrosos.
Como parte do entretenimento de bordo, há bons fones de ouvido, e a seleção musical é muito boa e diversificada, privilegiando a Itália, é claro! • Os filmes tinham uma boa seleção, mas, com poucos lançamentos americanos, brilhavam mais pelas produções italianas. O monitor individual e fixo à frente tem boa qualidade, porém sem a melhor das definições (assisti a um daqueles filmes verídicos, com letreiros explicando o destino dos personagens no final e, por não consegui ler, fiquei na dúvida se o protagonista vive feliz para sempre ou traumatizado e depressivo).
Dois banheiros espartanos servem à executiva. O kit Ferragamo solucionava o problema, mas senti falta dos copinhos para fazer gargarejo. • Simona Z. foi a comissária responsável por meu atendimento: impecável. Comunicamo-nos muito bem num misto de italiano fraco (meu, é claro) e inglês. • A chegada e o desembarque em Fiumicino/Roma foram tranquilos.
O retorno de Fiumicino a Guarulhos aconteceu no sábado, dia 5 de setembro, também no Boeing 777-200ER, voo AZ 674. O check-in foi muito rápido e eficiente, no Terminal 1B. Neste terminal, antes de passar pela segurança, há uma sala VIP da Alitalia muito bonita, que conta com um belo bar e até com um simulador de voo.
Logo ao lado fica a entrada específica do Sky Priority, que é rápida e com agentes de segurança muito mais cordiais do que o usual. • Por causa de um incêndio que aconteceu recentemente no aeroporto, o percurso até o terminal G teve de ser feito de ônibus. A reforma após o incêndio bloqueou alguns fluxos que podiam ser feitos caminhando e obrigou a Alitalia a fechar salas VIP.
A sala VIP do Terminal G (que é circular) fica perto do portão 9, descendo um piso. O elevador é demorado. Para quem estiver sem malas, a melhor opção é a escada. O atendimento à entrada é ótimo, a internet funciona bem em laptops, mas curiosamente não consegui conectar iPad e iPhone. Já a sala está claramente subdimensionada para o fluxo de usuários.
A fila de espera torna-se parte da vida de quem quer usar uma das duas cabines de banheiros masculinos.
Como ponto positivo há dois bons boxes para banho, que, embora simples, cumprem muito bem seu papel. Você recebe um bom kit de banho que inclui toalhas de rosto e de banho, sandálias do tipo Hawaianas (como o tamanho é único, torço para que você não calce 44), xampu, creme de corpo e sabonete líquido. Além de kit para escovar os dentes e fazer a barba. • O maior problema da sala é a falta de cadeiras e poltronas para todos. E isto é acentuado pela falta de educação dos que reservam poltronas com objetos.
A comida é boa, com salada, sanduíches e dois tipos de massa. Bebidas simples. Um funcionário abastecia a geladeira com águas, mas as garrafas não conseguiam ficar tempo suficiente ali para resfriar. Gelado mesmo só o espumante.
O embarque foi um pouco confuso, num misto de falta de instruções claras e pessoas que não sabiam (ou fingiam não saber) em que fila ficar. • Entrei na aeronave e me dirigi à poltrona 5A. Como já comentei, o arranjo de poltronas da business é excelente, e desta vez fui à janela tendo os equipamentos à minha direita, criando um cubículo mais privativo que na vinda. Dica: as janelas nas fileiras ímpares são as melhores e estão alinhadas aos centros com disposição para casais.
O mau tempo em Roma atrasou vários voos durante o dia e o AZ 674 já estava com atraso de 45 minutos quando nos desengatamos do finger às 22h39. Curiosamente, às 22h43 a ponte voltou a se unir à aeronave enquanto já passava o filme de segurança. A tripulação teve de desarmar novamente e abrir a porta para a entrada de um oficial que foi direto à cabine de controle aparentemente para acertar algum protocolo burocrático que havia deixado de ser cumprido. Voltaram a fechar a cabine e o finger se soltou novamente às 22h46. Decolamos às 23h09.
Para o jantar, escolhi como primeiro prato uma pasta com molho de tomate San Marzano DOP, manjericão e parmesão ralado. O ponto da pasta estava surpreendentemente bom e al dente, embora algumas partes do prato estivessem mais quentes do que outras. Destaque para o delicioso molho de tomate!
O segundo prato escolhido foi o suprema de frango assado recheado de cogumelos em massa com molho leve cremoso com vegetais. O ponto alto era a massa de cogumelos que funcionava como recheio, mas o prato todo era pastoso e carente de um elemento crocante para variar a textura. • Escolhi para ambos o branco Verdicchio dei Castelli di Jesi 2014, um Clássico Superori DOC Versiano Vignamato. Eu não conhecia, e gostei... frutas à pera suculenta e boa acidez num corpo médio que mereceria 88 pontos em Adega.
A tripulação era muito atenciosa, profissional e cordial. • No voo de volta, após o jantar, os banheiros já pareciam ter sido frequentados por soldados espartanos voltando da guerra. • Depois de um pouso perfeito em São Paulo, e de um voo em que o comandante conseguiu tirar um pouco do atraso da partida, tivemos um desembarque tranquilo. Mas ainda estava longe de um final feliz. Não só as bagagens prioritárias não saíram primeiro, como duas malas travaram e paralisaram a esteira enquanto membros da equipe do aeroporto ao lado do carrossel mantinham um ar blasé sem tomar qualquer providência. Após quase 10 minutos, um funcionário esbaforido chegou correndo e pulou na esteira para separar as malas. Nota 4, e em reconhecimento ao fato de minha mala ao menos ter chegado... • Acredito que para o passageiro a experiências em solo e ar formam um único conjunto e companhia aérea e aeroporto são indissociáveis neste contexto.