Startup Hermeus formalizou acordo apenas para desenvolvimento de tecnologia para voos hipersônicos
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 10/08/2020, às 15h00 - Atualizado às 16h22
Atualmente conceito de avião hipersônico da Hermeus Corporation não passa de uma projeção em computador
A notícia que o Presidente dos Estados Unidos poderá no futuro contar com um avião hipersônico chamou atenção de alguns leitores na internet. Afinal, a Casa Branca deverá receber dois novos 747-8 que serão utilizados no transporte presidencial e não existe uma aeronave civil de alta velocidade disponível no mercado.
O mal-entendido ocorreu pelo fato da Hermeus Corportation, startup de alta tecnologia aeroespacial, ter formalizado uma parceria com a Diretoria de Transporte Aéreo Presidencial, da força aérea dos Estados Unidos (USAF). Vale explicar que o acordo atual não prevê o desenvolvimento de nenhum avião, apenas estudos de viabilidade tecnológica para um sistema hipersônico
Recentemente a Hermeus recebeu um contrato de US$ 1,5 milhão (R$ 8,18 milhões) com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD) para estudos em viagens hipersônicas, avaliando as interfaces entre aeronaves de alta velocidade e comunicações existentes, aeroportos e infraestrutura de controle de tráfego aéreo.
Basicamente o estudo que será realizado é referente as antenas e sistemas de radar, que deverão ser capazes de lidar com o deslocamento da aeronave dentro do conceito Doppler, visto que a aeronave estará se deslocando de forma extremamente rápida.
Além disso, o a Hemeus já faz parte do programa AFWERX, da força aérea norte-americana, que busca ampliar a cultura de inovações e acelerar o desenvolvimento de tecnologias disruptivas. A startup avançou para a Fase II de um protótipo de motor capaz de impulsionar uma aeronave a Mach 5 (acima de 6.000 km/h).
Todavia, o motor em testes não passa de um demonstrador tecnológico, sem qualquer ligação com um programa completo. A USAF trabalha há vários anos em uma série de estudos para voos hipersônicos com capacidade militar, ainda que a viabilidade operacional jamais foi comprovada. Ataques hipersônicos são possíveis desde a década de 1960, com o uso de poderosos misseis balísticos intercontinentais, que oferecem baixo risco e elevada taxa de sucesso.
Em nota oficial da Hermeus, Ryan Britton, general de brigada da USAF, comentou que o objetivo dos militares é aproveitar as capacidades geradas pelos estudos da Hermeus para maximizar os retornos sobre os investimentos feitos pelo Departamento de Defesa. “A Diretoria de Transporte Aéreo Presidencial e Executivo tem o orgulho de apoiar Hermeus para tornar esta capacidade revolucionária uma realidade enquanto buscamos recapitalizar a frota no futuro”, afirmou.
Ainda assim, a declaração se restringe as possibilidades que a nova tecnologia poderá oferecer a força aérea norte-americana, sem qualquer plano para desenvolver um avião hipersônico presidencial. Aliás, a Casa Branca e a própria USAF desconhecem qualquer estudo de viabilidade neste sentido.
O plano da Hermeus para um avião hipersônico civil sequer saiu da fase de estudos preliminares. A startup acredita que o projeto deverá conceber uma aeronave com capacidade para 20 passageiros e alcance de 4.000 nm (7.410 km). Na teoria o avião seria capaz de voar apenas por uma hora, quando atingiria seu máximo alcance.
O contrato com a Hermeus foi concedido por meio da Autoridade de Outras Transações (OTA, na sigla em inglês) da USAF. Os contratos OTA são mais simplificados em relações aos acordos mais amplos da força aérea, exigindo menores requisitos regulamentares. Nos últimos anos o Pentágono tem concedido um maior número de acordos OTA, com objetivo de avançar mais rapidamente em questões consideradas estratégicas e que podem ser desenvolvidas por diversos parceiros privados, com baixo investimento e menores riscos.
Um dos entraves é o elevado custo de desenvolvimento e operação de aviões ultrarrápidos. Além disso, as restrições de voo sobre o continente, por conta do forte estrondo gerado, tornam pouco atraente o uso de uma aeronave hipersônica na maior parte dos deslocamentos. No caso do Presidente dos Estados Unidos, a imensa maioria dos voos é realizado dentro do próprio país, onde regimes de voo igual ou acima de Mach 1 não são liberados.
Diversas empresas buscam atualmente desenvolver aeronaves supersônicas civis, voltadas para o transporte executivo. Entre os obstáculos que devem ser superados estão o boom sônico e o elevado ruído gerado em voos acima da velocidade do som, somado ao elevado custo operacional.
Uma curiosidade, um avião hipersônico teria uma limitada capacidade de transporte, restrito a pouco menos de 20 passageiros, enquanto o peso máximo de decolagem se aproximaria do Boeing 767-300ER, na casa dos 185.000 kg. A maior parte da capacidade seria destinada ao transporte de combustível.