Aeroflot encomenda 100 Superjet

Encomenda marca mudança na estratégia da indústria russa e aponta futuro distante do ocidente

Por Edmundo Ubiratan Publicado em 12/09/2018, às 16h45 - Atualizado às 17h00

As russas United Aircracft Corporation (em russo OAK- Obyedinyonnaya Aviastroitelnaya Korporatsiya) e Aeroflot assinaram um memorando para 100 Superjet 100, que deverão ser entregues entre 2019 e 2026. O acordo ocorre em um momento que as autoridades russas buscam construir uma versão do Superjet 100 apenas com componentes produzidos pela indústria local, abandonando completamente sistemas ocidentais.

Interior conta com configuração 2+3, similar ao Airbus A220 (ex CSeries)

A posição de Moscou é um forte revés ao programa Superjet, que foi o primeiro a ser concebido para integrar tecnologias ocidentais, não apenas permitindo a criação de um projeto mais moderno, mas ainda mais barato e dentro de conceitos amplamente aceitos no mundo. A disputa política e ideológica da Russia com os Estados Unidos e Europa, provocou uma drástica mudança no comportamento da indústria aeronáutica do país.

A Aeroflot que se tornou uma das empresas mais respeitadas do mundo com o fim da União Soviética, passou a contar com uma frota quase exclusivamente composta por modelos Airbus e Boeing. Com o lançamento do Superjet, produzido em parceria com a italiana Leonardo, e que contou com consultoria da Boeing em seu desenvolvimento, se tornou o primeiro avião russo projetado para o mercado internacional. Mesmo sem obter grandes contratos no exterior o modelo permitiu um grande salto tecnológico ao país. Rival dos Embraer E-Jet e Airbus A220, o Superjet 100 obteve relativo sucesso entre países sob influência de Moscou e um contrato com a mexicana Interjet.

“A Aeroflot tem sido historicamente a maior operadora de aeronaves russas e ajudou a melhorar todos os modelos de aeronaves aqui produzidas. É prioridade máxima da Aeroflot atuar no interesse da aviação russa e do nosso país”, afirmou Vitaly Saveliev, CEO da Aeroflot, em discurso quase cívico.O contrato atual permitirá a Aeroflot ampliar seu alcance regional, hoje dominado por empresas privadas de menor porte na Rússia, ao mesmo tempo que ampliará a frota de aviões russos para quase 200. Atualmente a Aeroflot possui 49 Superjet na frota, assim como um pedido para 50 MC-21, o primeiro avião de média capacidade produzido na Rússia após o colapso da União Soviética.

MC-21 poderá ser o primeiro avião comercial russo com condições de disputar o mercado mundial

 

O MC-21 possui características operacionais e dimensões próximas dos ocidentais Airbus A320 e Boeing 737-800. O projeto ainda conta com diversos fornecedores de sistemas ocidentais, o que, por ora, deve ser mantido. O programa tem ambições de ser o primeiro avião russo de sucesso internacional, mas depende da definição dos atritos políticos entre Moscou e Washington, em especial em relação a temas sensível como a Criméia. Embora sem qualquer vínculo com a indústria aeronáutica, a geopolítica continua afetando projetos industriais ao redor do mundo.

Mexicana Interjet foi o primeiro cliente nas Am´éricas a encomendar o SSJ100.

Cockpit do SSJ100 segue padrões internacionais

Ainda assim, a Aeroflot como principal empresa aérea russa é uma das responsáveis pela promoção da indústria aeronáutica do país ao redor do mundo. O que torna natural a opção por modelos de aviões produzidos no país.

 “Trabalhamos com a Aeroflot por muitos anos. Como o primeiro e maior operador da aeronave SSJ100, a Aeroflot ajudou significativamente o desenvolvimento da indústria aeronáutica russa”, frisou Yury Slyusar, presidente da UAC “A assinatura deste novo acordo marca a próxima etapa de nossa cooperação e contribuição conjunta para o desenvolvimento da indústria aeronáutica e a expansão das conexões aéreas regionais e internacionais”.

O distanciamento do modelo ocidental pode representar uma retomada do modelo soviético, de buscar contratos com empresas russas e de países sob a influência política e economica de Moscou. Contudo, o modelo poderá sofrer com a concorrência chinesa, que conta com melhores opções de finanaciamento externo.

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