Da bússola aos GPS conheça a evolução dos instrumentos de navegação a bordo das aeronaves
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 22/08/2023, às 08h00
O voo KAL 007, da Korean Air Lines, ingressou inadvertidamente no território da então União Soviética em 1º de setembro de 1983. Embora as tensões entre o bloco socialista e o Ocidente estivessem sob relativa calmaria, um exercício com mísseis balísticos estava sendo conduzido pelos soviéticos e era acompanhado por aeronaves de inteligência dos Estados Unidos.
Um erro de navegação fez o Boeing 747-200B entrar no espaço aéreo da União Soviética e ser abatido por um caça Sukhoi Su-15, matando todos os seus 269 ocupantes.
Cinco anos antes, os Estados Unidos haviam lançado os primeiros satélites da constelação GPS, que deveriam ser de uso exclusivo dos militares. O caso do KAL 007 fez o governo norte-americano avaliar a disponibilidade da tecnologia de navegação por satélites para uso civil.
Nos anos 1990, o processo foi concluído e revolucionou as viagens aéreas, permitindo um melhor gerenciamento do tráfego aéreo e aumentando ao segurança de todo o ecossistema existente.
Porém, antes do primeiro satélite ter sido lançado em 1957 pelos soviéticos, a aviação já era uma ciência robusta e aviões cruzavam o mundo havia várias décadas. No caso, menos de vinte anos antes, milhares de aviões passaram a viajar dos Estados Unidos para Europa e Japão em um esforço de guerra sem precedentes.
Com navegação idêntica à existente nas caravelas que viajaram da Europa para o Novo Mundo e as Índias, os aviões faziam trajetos semelhantes em uma fração do tempo.
A bússola foi o primeiro instrumento de navegação dos aviões. Era a primeira herança naval que a aviação ganharia, que chegou até os uniformes. Os primeiros aviões mal conseguiam fazer voos locais, não distanciando muitos quilômetros da origem, mas em um curtíssimo espaço de tempo os aviões se tornaram mais confiáveis e ganharam maior alcance, exigindo uma forma de chegar ao destino ou voltar a origem que se distanciavam cada vez mais. O aviador Charles Lindbergh cruzou o Atlântico Norte sozinho, apenas usando como referência principal uma bússola, exatamente como Colombo havia feito séculos antes no sentido oposto.
Anos antes de Lindbergh, os aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral fizeram uma viagem de Portugal para o Brasil, mas traziam um sextante adaptado para uso aeronáutico. O mesmo sextante que ajudou Cabral a chegar ao Brasil e foi adaptado para permitir navegar longas distancias pelo ar. O instrumento logo se tornou padrão nas viagens, especialmente travessias oceânicas.
Na Segunda Guerra os alemães criaram um sistema de navegação que combinava dois giroscópios com acelerômetro, que permitia ajustar o azimute em um computador analógico e, assim, as bombas V2 atingirem com relativa precisão a cidade de Londres. Logo, o sistema foi adotado pela aviação comercial, que passou a ter maior confiabilidade em voos de média e longa durações.
Com a evolução da informática, em especial na década de 1960, em paralelo ao desenvolvimento da Corrida Espacial, os computadores passaram gradualmente para as cabines das aeronaves, que estavam cada dia mais sofisticadas. O sistema inercial desenvolvido para as bombas V2 evoluiu e se tornou padrão nas aeronaves civis e militares nos anos 1970. Algo especialmente importante com o avanço do tamanho dos aviões, como o Boeing 747 e outros widebodies. Logo surgiram sistemas mais complexos, usando inercial laser, que era ainda mais preciso que os analógicos que combinavam acelerômetros, giroscópios e magnetômetros.
O Boeing 767 trouxe nos anos 1980 o FMS, acrônimo de Flight Management System, que permitia gerenciar melhor o voo, desde a navegação até os parâmetros de motores. Na prática, o FMS decretou o fim dos engenheiros de voo e dos navegadores. Logo, o sistema foi simplificado, do ponto de vista de usabilidade, e se tornou mais sofisticado em termos tecnológicos, integrando-se aos modernos aviônicos digitais.
Logo que a AERO Magazine foi relançada, em 1994, surgiam as notícias do ainda chamado glass cockpit, que era, na prática, o surgimento do conceito de suíte de aviônicos modernos que conhecemos hoje. O enorme salto da computação gráfica e de processamento no início dos anos 2000, aliado à comunicação, que se tornou ainda mais massificada, permitiu criar plataformas de aviônicos sofisticadas.
O conceito básico previa que os mesmos hardware e software básicos pudessem ser integrado em diversos tipos de aeronaves, fossem aviões ou helicópteros. Mais recentemente, a integração se tornou completa, com visão sintética em alta resolução, sistemas de navegação via GPS que permitem traçar visualmente toda a rota nos displays, controles sensíveis ao toque e os novos sistemas de pouso automático.