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Definição polêmica

As diferentes gerações de caças

Saiba por que as diferentes gerações de caças funcionam muito mais como marketing do que um conceito de aplicação prática


F/A-18 e F-35 duas gerações que compartilham diversos conceitos e sistemas de última geração - USAF
F/A-18 e F-35 duas gerações que compartilham diversos conceitos e sistemas de última geração - USAF

A Northrop Grumman afirmou que o novo bombardeiro B-21 Raider é o primeiro avião de sexta geração. Nos últimos anos, diversos países anunciaram que estariam trabalhando em caças de sexta geração, muitos deles pulando o desenvolvimento da atual quinta geração de aviões de combate.

Porém, não existe regra nem consenso para definir quando um avião, efetivamente, muda de geração. Na prática, a designação funciona muito mais como um referencial de marketing do que um conceito de aplicação prática.

No final dos anos 1980, os Estados Unidos queriam desenvolver um novo caça, mais capaz do que os então poderosos F-15 Eagle. O argumento utilizado pelo Pentágono na busca por orçamento foi que seriam caças de “quinta geração”, o que rapidamente foi adotado como argumento de vendas pelos concorrentes que ofereciam o YF-22 e o YF-23.

Na ocasião, já se dizia que os caças de quinta geração seriam aqueles com capacidade furtiva (uma revolução para os anos 1980), possibilidade de voar em velocidade supersônica sem pós-queimadores (supercruise) e sistema de armas integrado.

Autores especializados em história da aviação criaram listas tentando organizar a evolução da aviação de caça, mas, ainda hoje, não existe consenso sobre o tema. Listamos aqui alguns exemplos de caças por gerações, definidos por meio de uma média da literatura especializada e mundialmente aceita, ainda que os argumentos nem sempre sejam realmente válidos para definir quando um avião muda ou não de geração.

Note que optamos por incluir alguns modelos de caças em duas listas diferentes, justamente visando mostrar a complexidade de se estabelecer uma cronologia.

PRIMEIRA GERAÇÃO (1943-1955)

Messerschmitt Me 262
Messerschmitt Me 262

Talvez seja a mais simples de ser definida, ainda que possa ser subdividida em duas partes, afinal, agrega os primeiros caças a jato.

  • Primeira fase

Ocorre entre 1943 e 1950, com o surgimento dos primeiros aviões de combate a jato subsônicos e de elevado rendimento, mas que usavam armamento convencional (canhões) e estavam na transição para as asas enflechadas.

Exemplos: Messerschmitt Me 262, Gloster Meteor, Lockheed P-80, de Havilland Vampire, Saab 29 Tunnan e MiG-9

  • Segunda fase

Começa em meados de 1953, quando os caças ganham asas enflechadas e agregam misseis ar-ar, radar e voam no regime transônico.

Exemplos: MiG-15, North American F-86 Sabre, Dassault Mystère IV e Hawker Hunter.

SEGUNDA GERAÇÃO (1954-1960)

MiG-19
MiG-19

Nesta segunda geração as coisas começam a ficar mais complexas, já que não existe um parâmetro para se definir quando ela começa ou termina.

Em geral, inclui os caças supersônicos e aceita o final da Guerra da Coreia como período cronológico, já que muitos projetos lançados na sequência traziam o aprendizado dos novos combates ar-ar. A viabilidade dos voos supersônicos operacionais, com o F-100 Sabre, em 1954, permite estabelecer o começo dessa geração.

A chamada Century Series, os seis caças supersônicos da Força Aérea dos Estados Unidos, também é tida como fato cronológico para definir o início da Segunda Geração de caças a jato.

Exemplos: North American F-100 Super Sabre, McDonnell F-101 Voodoo, Convair F-102 Delta Dagger, Lockheed F-104 Starfighter, Republic F-105 Thunderchief, Convair F-106 Delta Dart [Century Series]; MiG-19, Sukhoi Su-7 e Dassault Super Mystère B2.

TERCEIRA GERAÇÃO (1955 – 1970)

Mirage III e Mirage IV
Mirage III e Mirage iV (no alto)

Se a segunda geração já é nebulosa, a definição da terceira é ainda mais incerta, mostrando a dificuldade de se estabelecer gêneses de forma muito genérica. É aceito que a terceira geração inclui os caças de interceptação aérea com capacidade de voar acima de Mach 2 e armados apenas com mísseis. Isso por si só bagunça a lista, já que, por exemplo, metade da Century Series cumpre tais requisitos. Da mesma forma os primeiros Su-17, que traziam avanços superiores à segunda geração, voava Mach 1.13 enquanto o Su-17SM, que atingia Mach 2.1, voou apenas em 1971. As asas de geometria variável também surgem neste período.

Exemplos: Lockheed F-104 Starfighter, Republic F-105 Thunderchief, Convair F-106 Delta Dart, Dassault Mirage III, Mirage F1, MiG-21, MiG-23, Su-17 e McDonnell Douglas F-4 Phantom II

QUARTA GERAÇÃO (1970 – presente)

F-117
F-117 Nighthawk

A quarta geração torna a classificação ainda menos nítida. É uma geração que prometia romper com muita coisa da anterior, mas acabou agregando quase tudo o que já existia, como limitação de velocidade média de Mach 2 e aplicação de asas de geometria variável (na época, nos anos 1970, considerada uma solução para todos os novos aviões). No fim, gerou tantas atualizações que surgiu a controversa geração 4,5 ou 4+ e a ainda mais difícil de estabelecer geração 4++.

Os primeiros aviões da quarta geração surgiram no início dos anos 1970, com a promessa de uma revolução do que existia, como o F-16, que deveria ser a volta dos caças de interceptação puro sangue. Já na metade da década, optou-se por também ser uma evolução natural de projetos anteriores, como o Mirage 2000, enquanto outros apenas queriam atender a requisitos militares daqueles tempos.

Exemplos: Panavia Tornado, Grumman F-14 Tomcat, McDonnell Douglas F-15 Eagle, General Dynamics F-16, Lockheed F-117 Nighthawk, McDonnell Douglas F/A-18 Hornet, Mirage 2000, MiG-29 e Su-27.

  • Geração 4,5
Gripen E
Gripen E

Nos anos 1980, surgiu uma geração intermediária, como uma evolução do que já existia, agregando novos sistemas, oferecendo capacidade multimissão, supercruise, furtividade, entre outros. Atualmente, a maioria dos projetos são chamados de geração 4,5 ou 4++.

Exemplos da geração 4,5: Saab Gripen, Dassault Rafale, Eurofighter Typhoon, Su-30, Su-35, MiG-29M, MiG-29K, MiG-35, F/A-18 Super Hornet, F-15 Strike Eagle, F-15EX Super Eagle, KAI KF-21 Boramae e Saab Gripen NG.

QUINTA GERAÇÃO (1990 – presente)

F-22
F-22

Talvez a mais simples de todas, pois, por ora, os próprios projetos e fabricantes optam por frisar a quinta geração em seus programas de desenvolvimento. Hoje em dia, existem apenas quatro aviões operacionais.

Surgida em 1984, durante o Advanced Tactical Fighter, o programa da Força Aérea dos Estados Unidos para um novo caça avançado, teve como concorrentes o YF-22 e YF-23. Ambos os aviões voaram pela primeira vez em 1990, estabelecendo assim o ano de início para a nova geração.

Curiosamente, o requisito de furtividade é visto por muitos como sinônimo de quinta geração, mas o F-117 é o avião mais furtivo da história e é considerado de quarta geração, nem mesmo na categoria 4,5 ele foi inserido, demonstrando, assim, a dificuldade de estabelecer uma regra fechada.

Exemplos: Lockheed Martin F-22 Raptor, Lockheed Martin F-35, Sukhoi Su-57 e Chengdu J-20

Sukhoi Su-27
Su-27

Avaliações controversas

O autor Richard P. Hallion estabelece que a quinta geração acabou em meados dos anos 1980, com a sexta geração incluindo os caças da geração 4,5 em diante.

Já o Ministério da Defesa chinês não considera a geração de caças a jato da Segunda Guerra até 1953, e considera a geração 4,5 como 3,5, enquanto a quinta geração seria a quarta.

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Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 05/12/2022, às 09h00


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