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Fantasma soviético da burocracia

Acidente na Rússia revela que país pode ter milhares de pilotos sem conhecimentos básicos

Desde 2007 mais de 550 carteiras foram suspensas por pilotos não terem feito curso de pilotagem


O recente acidente com um Superjet 100, que vitimou 41 pessoas após um pouso de emergência em Moscou, levou as autoridades russas abrirem uma investigação contra a própria organização de aviação civil do país.

O Procurador-Geral da Rússia, Yury Chaika, em audiência no Parlamento, declarou que 550 pilotos tiveram suas licenças suspensas por falta de aptidão e habilidade, e outros 160 certificados de voo foram anulados no país depois de inspeções do Ministério Público.

Entre os problemas encontrados estavam a falta de conhecimentos técnicos por parte dos pilotos, incluindo profissionais de companhias aéreas, muitos sem proficiência para resolver situações de emergência. De acordo com o promotor, o sistema de aviação russo sofre com uma continua falta de objetivos e não possui um programa de segurança definido. “A questão do treinamento dedicado de pilotos ainda continua sendo urgente”, alertou Chaika.

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Procurador-Geral da Rússia, Yury Chaika, em audiência no Parlamento. Foto: duma.org.ru

O Procurador-Geral ainda criticou de forma contundente o Ministério do Transporte Russo e a agencia de aviação civil, a Rosaviatsia, afirmando que o governo negligenciou historicamente padrões mínimo de treinamento e manutenção.

O problema com proficiência pode estar ligado, entre outros, com a falta de escolas de instrução na Rússia, assim como a quase ausência de instalações apropriadas e de instrutores qualificados. Dois centros de treinamento foram fechados após ser constatado que não tinham condições mínimas de oferecer um curso adequado aos pilotos. Também houve casos de aviadores que receberam licenças de piloto comercial após cursarem programas de treinamento incompletos. O temor do Procurador-Geral é que centenas ou milhares de licenças tenham sido emitidas ao longo dos últimos anos sem que o piloto tenha recebido o treinamento adequado.

Outra denúncia se refere a finalização deficiente das autoridades de aviação, tornando usual que aeronaves com manutenção irregular mantenham seus certificados de aeronavegabilidade em dia. Após o acidente com o Superjet 100, um grupo de investigadores ligados ao Gabinete do Procurador-Geral encontrou 400 aeronaves com manutenção irregular ou incorreta. De acordo com relatório parte dos problemas está relacionado ao modelo confuso e burocrático que a Rosaviatsia regula e fiscaliza o setor.

A Chaika também criticou o Ministério dos Transportes por não ter elaborado e ratificados processos legais referente aos procedimentos de certificação de aeronaves, de processos de produção e treinamento do pessoal da aviação civil.

AEROFLOT 1492

No dia 5 de maio o voo Aeroflot 1492 se acidentou durante um pouso forçado no aeroporto internacional de Sheremetyevo, nos arredores de Moscou, vitimando 41 pessoas. Segundo as autoridades o Sukhoi Superjet 100 (o primeiro avião comercial completamente projetado na Rússia após o colapso da União Soviética) estivesse com todos seus sistemas operando normalmente, o pouso foi realizado de forma pouco usual, extrapolando limites estruturais da aeronave. Após o pouso a aeronave rompeu seus tanques de combustível iniciando um incêndio. O procedimento de pouso e o de evacuação de emergência está sob análise das autoridades, que encontraram uma série de erros primários.

Segundo Sergey Furgal, governador de Khabarovsk, onde fica a planta industrial que produz os Superjet 100, a investigação preliminar aponta como falha humana o motivo do fracassado pouso forçado. “Foram os pilotos que cometeram vários erros durante o pouso, seja por falta de experiência ou por estresse”, afirmou Furgal. “[o avião] estava se aproximando da pista em um ângulo errado e com velocidade excessiva”.

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Os dados do gravador de dados apontam que a aeronave ultrapassou em 900 metros o ponto ideal de toque, mantendo uma velocidade de 158 nós, enquanto o usual seria naquele momento uma velocidade próxima de 120 nós. Ao tocar a pista o avião gerou uma força-g equivalente a 2,55g, “saltando” (bounce) cerca de 2 metros. Dois segundos depois um novo toque na pista, desta vez com o trem de pouso do nariz, com uma força de 5,85g, que forçou a aeronave de volta ao ar, desta vez subindo por aproximadamente 6 metros, antes de retornar ao solo e exceder as cargas estruturais previstas no projeto.

Embora o acidente ainda esteja sendo investigado pelas autoridades, a Aeroflot, negou as alegações do governador, considerando “uma tentativa descarada de pressionar a investigação”.

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Por Edmundo Ubiratan | Fotos: Divulgação
Publicado em 20/06/2019, às 14h00 - Atualizado em 21/06/2019, às 16h56


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