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U-2

Voando no U-2 em regiões onde ferve o sangue

Uma falha no traje especial a mais de 20.000 m pode ser fatal


Pilotar o avião-espião Lockheed U-2S é para muito poucos – não mais de 1.000 pilotos operam uma frota de apenas 33 aeronaves, todas baseadas na Base Aérea Beale, EUA.

Também é geralmente outro piloto de U-2 que monitora cada pouso, acompanhando, em alta velocidade e instruindo seu colega no cockpit quando ainda se encontra prestes a tocar na pista, dirigindo-o via rádio dentro de um carro que o persegue a mais de 150 km/h. 

Apenas um detalhe de como é complexa e crítica a operação do U-2. Seu trem de pouso na configuração “bicicleta”, exige um verdadeiro exercício de equilíbrio por parte do piloto. Para as operações em terra, o U-2 devem ser inseridos apoios com pequenas rodas na ponta das asas, que lembram os suportes das bicicletas infantis, quando a criança aprende a pedalar. Estes apoios (outriggers) se desprendem durante a decolagem. Tudo, para aliviar o peso.

A grande verdade é que o U-2S é um avião difícil de pilotar a voa normalmente no limiar do espaço, em ambiente extremamente inóspito e agressivo para a vida humana. Em altitudes de 19.500 m a 21.000 m, o conteúdo de oxigênio é apenas uma pequena fração da do nível do mar e a temperatura oscila entre os -65ºC  e  os -70ºC.

Um traje especial, completado por capacete hermético, ambos pressurizados, garantem uma pressão sobre o corpo do piloto e um suprimento de ar que permitem que possa executar sua missão de até 12 horas, registrando e enviando imagens de regiões estratégicas que interessam às forças armadas em seu esforço constante de vigilância e orientação. 

Nas altitudes normais de operação, qualquer vazamento no “traje de astronauta” amarelo-vivo, pode significar a morte em poucos segundos, já que acima dos 18.000 m o sangue atinge o ponto de ebulição e “ferve” como água em uma cafeteira.

Testes e mais testes preparam os pilotos para detectar em tempo hábil, os sinais característicos da hipóxia (falta de oxigênio) antes que seja tarde.

Hoje, os tempos são bem outros desde que Francis Gary Powers voando sobre território da então URSS foi abatido por um míssil em plena Guerra Fria: os U-2S só operam em espaço aéreo internacional ou com pleno apoio logístico de países amigos. 

As informações enviadas ou coletadas pelo “espião” são analisadas e classificadas em determinados centros de inteligência em terra e reenviadas – após a triagem – para forças armadas diretamente dependentes das mesmas, envolvidas no cenário dos conflitos regionais e do terrorismo internacional.

Ernesto Klotzel
Publicado em 02/01/2017, às 21h33 - Atualizado às 21h39


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