Não foi o Exército de gentlemen, tampouco a poderosa Marinha, mas a Real Força Aérea (RAF) que representou o mais importante papel em 1940. A força aérea britânica poderia ser definida como, inquestionavelmente, constituída por rapazes da classe média do país, “cheirando a gasolina e óleo do motor”.
Tanto George Orwell como o próprio Winston Churchill notaram e comentaram o “caráter de classe média do grupo de voo” que, segundo eles, dificilmente poderia ser considerado como “orbitando dentro da classe dominante”.
As piadas da época se referiam aos pilotos como sendo “mecânicos de motores fardados” – não tão diferentes dos motoristas que dirigiam os carros luxuosos dos ricos.
O escritor Evelyn Waugh, sempre atendo às diferenças sociais, escolheu um personagem em uma de suas novelas, ambientadas na Segunda Guerra Mundial, que lamentava que a um oficial sênior da RAF foi permitido se tornar membro de um clube de elite. Esta gafe teria ocorrido durante a decisiva Batalha da Grã-Bretanha quando, por alguns momentos, a Força Aérea “era quase respeitável”. No livro em questão, o episódio é descrito como “um pesadelo para todos”.
Alguns aspectos do sistema de classes continuaram a persistir na RAF. Membros de algumas unidades auxiliaries – formadas pelos ricos e nobres de Londres – se divertiam, segundo um piloto, ao se referirem à RAF como sendo “a tropa colorida”.
Diferenças de classe também migraram para os cockpits: oficiais da RAF, geralmente, tinham o privilégio de voar sempre no mesmo avião, enquanto sargentos-pilotos tinham de aceitar qualquer avião disponível.
Orwell, Churchill e Thatcher
Orwell se surpreendeu com o efeito causado pela RAF sobre a classe social diante do esforço de defesa contra uma pretensa invasão alemã. “A diferença de classes teve de ser esquecida diante da necessidade de um número massivo de pilotos”.
Olhando para a questão sob outra perspectiva, Churchill chegou à mesma conclusão. Ele comentou com seus subordinados que se preocupava com o papel pífio dos aristocratas na Batalha da Grã-Bretanha: uma falha total dos ex-alunos de colégios exclusivos como Eton, Harrow e Winchester para onde a elite mandava seus filhos. As escolas tiveram apenas uns 200 representantes dos 3.000 pilotos que combateram na Batalha. Uma amostragem vergonhosa quando comparada à Primeira Guerra Mundial, quando somente o colégio Eton contribuiu com 5.768 homens para as forças armadas, dos quais 1.160 foram mortos e 1.467 feridos.
“Deixaram tudo para a classe média baixa: filhos de professores, bancários, lojistas metodistas e humildes burocratas”. Churchill concluiu: “Eles salvaram este país, tem o direito de governá-lo”. Margaret Thatcher, filha do dono de uma pequena mercearia em cidade do interior, que abandonou a escola aos 13 anos, surgiu no Parlamento em 1959, quando atuou com um Churchill já desgastado durante cinco anos, assumindo o posto dele em 1964.