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Perspectiva 2012

O ano começa com rumores acerca da crise europeia, que está por atingir sua fase mais aguda, mas o contexto para a aviação não é dos piores, principalmente em países emergentes, como o Brasil


O setor aeronáutico não está em risco. Pelo menos não em risco alto. É o que dizem os especialistas. Segundo eles, a bancarrota dos países europeus, o aumento do déficit norte-americano e a desaceleração da economia chinesa tiram o sono do mercado e devem, sim, respingar na aviação. Mas o setor segue por um terreno "menos perigoso" e apresenta casos significativos de crescimento. Na contramão desse cenário tempestuoso está o Brasil, que tenta manter-se em rota para assegurar sua posição de sexta potência econômica - e surpreende o mundo com o ritmo de crescimento da aviação, devendo se tornar o quarto mercado de transporte aéreo até 2014. De fato, as companhias aéreas superam recordes de ocupação e de horas voadas, ainda que em alguns casos os números não signifiquem necessariamente bons resultados e que algumas empresas apresentem balanços às vezes negativos.

Rodrigo Cozzato

Infraero
Projeto futurista do aeroporto de Brasília

MOMENTO FAVORÁVEL PARA INVESTIR
Ao concluir a fusão este ano, a dupla Tam e Lan forma uma das maiores empresas do mundo. A expectativa do mercado gira em torno do futuro das marcas e da aliança que será escolhida. Seguindo os mesmos passos, a Gol Linhas Aéreas também deve completar sua fusão com a Webjet - e a empresa deixará de voar como marca independente. Parte da antiga frota da Webjet vem sendo renovada com novos modelos 737NG, oriundos da própria Gol. A ação da Gol deve reforçar sua participação no mercado, principalmente quando a aliança com a Delta (leia mais na p. 28) entrar em vigor. Também se especula que a Gol poderá voltar ao mercado internacional de longo curso, talvez usando a marca Varig e com aeronaves como o Boeing 787. Analistas de mercado não acreditam numa manobra do tipo, especialmente envolvendo a antiga marca Varig, "que não possui mais nenhum apelo comercial ou emocional". A Azul continua a apostar no mercado regional, no qual compete com a Trip, que por sua vez continuará voando especialmente em rotas no interior do país, de baixo apelo comercial para as grandes empresas aéreas.

Apesar do crescimento da aviação regular, o Brasil tem desafios importantes pela frente. O aquecimento do mercado sobrecarregou a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), que precisará encontrar maneiras de acelerar o atendimento a operadores e pilotos. Outro gargalo são os aeroportos. Os leilões de privatização de Brasília, Guarulhos e Campinas devem acontecer este ano, mas as medidas efetivas ficarão provavelmente para 2013. Nos demais terminais, continua a corrida contra o tempo, tendo em vista a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

Rodrigo Cozzato

#Q#

SOLUÇÕES PARA ESCAPAR DA CRISE
Ao redor do mundo, a aviação comercial tem grandes desafios. Nos Estados Unidos, a maior parte das empresas apresenta balanços negativos difíceis de serem revertidos (leia mais na p. 31). Fusões recentes conferiram uma sobrevida às principais companhias aéreas do país, mas analistas não acreditam que elas consigam sobreviver sem uma completa reestruturação, que fatalmente levará muitas delas à falência.

Divulgação
Caça chinês J-XX

A Europa vive a mesma experiência. Busca nas grandes fusões internacionais, como no caso da British Airways com a Iberia, uma solução para readequar a oferta à demanda. A zona do Euro cria barreiras competitivas às empresas europeias, que passaram a ter margens de lucro cada vez mais restritas. Analistas acreditam que após a galopante crise que atinge a Europa apenas quatro grandes grupos sobreviverão.

Na Ásia, o Japão enfrenta uma situação parecida. Os problemas da Japan Airlines (JAL) viraram uma bola de neve, desde que a companhia anunciou o pedido de concordata em 2010. A JAL vem enxugando drasticamente a malha e a frota de aeronaves. O país é, porém, uma exceção no continente. A melhora do padrão de vida em diversos países do sudeste asiático foi um fator preponderante para o crescimento contínuo da aviação.

Já a Índia e a China prosperam acima da média regional e encontram dificuldade para contratar profissionais qualificados, especialmente tripulantes técnicos. Os países não têm tradição na formação de pilotos e atraem principalmente europeus que buscam melhores condições de salário nas empresas asiáticas.

Divulgação
F-35 norte-americano

Por sua vez, a África se mantém como uma mina a ser explorada. Suas poucas empresas aéreas não desfrutam de importância global. Ainda assim, empresas como a Royal Air Marroc, South African, Ethiopian e Air Nigeria criaram importantes hubs que oferecem opções de conexão e de malha para passageiros dos demais continentes. O desafio será melhorar a infraestrutura e a segurança dos aeroportos e do continente como um todo.

TABU BRASILEIRO
Modernizar a aviação militar no Brasil é necessário, mas a pauta de defesa continua sendo um tabu entre a classe política e para grande parte da população. A previsão é que durante o ano a FAB conclua alguns projetos em andamento, com expectativas de que a presidente Dilma Rousseff escolha o novo vetor de caça do país, com chances crescentes da Boeing.

Com a saída do ex-ministro Nelson Jobim do Ministério da Defesa, as chances do Dassault Rafale se reduziram significativamente, sobretudo com a aproximação cada vez maior da Saab com a região do ABC Paulista e as investidas da Boeing. Ainda assim, não se sabe se haverá um vencedor em 2012. A Marinha deverá continuar a modernização de seus meios, com a aquisição de novos helicópteros e o upgrade dos antiquados A-4, hoje em uso pela força. Do mesmo modo, o exército busca reequipar suas unidades e modernizar as aeronaves em operação.

Ricardo Beccari
LSA EuroStar da Evektor

ADEQUAR-SE À REALIDADE ECONÔMICA
A crise que atinge as principais potências mundiais tem criado grandes problemas para as maiores forças armadas do planeta. Os Estados Unidos deverão cortar ainda mais o orçamento de defesa, comprometendo o andamento de diversos programas militares, especialmente o de aeronaves não tripuladas e de aquisição de vetores. Além disso, projetos como o F-35 continuam sofrendo enormes atrasos, muitos relacionados a projeto, como aconteceu com o gancho de parada da versão embarcada, que está completamente fora das especificações mínimas.

Na Europa, os cortes afetaram seriamente as forças armadas do Reino Unido, que perderam praticamente a metade da sua capacidade aérea. O mesmo acontece na França, que deverá reduzir o número de Rafale encomendados, criando um entrave para o sucesso internacional do modelo.

A China promete manter em curso alguns projetos, como o J-XX, que deve se chamar J-20 e colocar o país no seleto grupo dos que possuem tecnologia furtiva própria. A Rússia, que em 2011 anunciou a maior compra militar desde o fim do regime soviético, deverá rever alguns contratos, procurando adequar os gastos à atual realidade da economia.

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Airbus
Airbus A350

A INDÚSTRIA NO BRASIL
Mesmo com a crise mundial, a Embraer vem obtendo bons resultados nos segmentos de aviação comercial, defesa e executiva. Em 2011, o número de aviões comerciais entregues foi de 111, enquanto o de aviões executivos ficou em 99. O roll-out do novo Legacy 500 (leia mais na p. 48) demonstra que mesmo diante dos desafios apresentados pelo cenário mundial a empresa continua confiante em seus produtos. A previsão é que o avião voe ainda no primeiro semestre deste ano, podendo até ser apresentado ao público na Labace, em agosto.

No setor militar, a Embraer conquistou uma importante vitória na concorrência para fornecer o Super Tucano aos Estados Unidos. Com ampla vantagem no segmento regional, a Embraer possivelmente terá ao longo de 2012 alguma definição sobre uma nova geração da família E-Jet.

A Helibras deverá concluir este ano a nova planta de Itajubá (MG), onde serão construídos os Super Cougar (EC 725) encomendados pelas três forças brasileiras. Já as pequenas empresas do setor podem aproveitar o bom momento da economia nacional para emplacar seus produtos, especialmente no segmento desportivo, com ultraleves avançados. A categoria dos LSA (Light Sport Aircraft) também deve crescer bastante em 2012.

Bombardier
Bombardier C-Series

FÔLEGO INTERNACIONAL
Lá fora, além da crise, os principais fabricantes internacionais enfrentam enormes atrasos em seus programas. A Boeing, apesar de entregar o 787 no final do ano passado, possivelmente não conseguirá cumprir o cronograma de entregas deste ano. Além disso, a empresa deverá focar parte de seus esforços no desenvolvimento do 737MAX e em uma possível e esperada nova geração do 777.

A Airbus continua obtendo bons resultados com a família A320, mas a tendência é que o novo A320Neo continue sendo o carro-chefe de vendas do fabricante. Outro projeto em andamento, que embora enfrente alguns atrasos, é o A350, que ao longo do ano deverá ser concluído o primeiro exemplar. A Airbus também deverá realizar mudanças no A380 para corrigir falhas apresentadas nos aviões já em operação.

Helibras
Helicóptero EC725

A Bombardier mantém boa participação no mercado executivo, mas deverá solucionar uma série de problemas operacionais com suas unidades do México e do Canadá. Seus principais produtos deverão seguir sem grandes alterações e a previsão é que os esforços sejam concentrados na aviação comercial. As vendas do C-Series e da família Dash continuam aquém do necessário.

Já a ítalo-russa Sukhoi Internacional não deverá apresentar grandes novidades, focando seus esforços na entrega dos modelos já vendidos e na prospecção de novos mercados na África, Ásia e alguns países da América Latina. A Gulfstream deverá iniciar as entregas do novo G650 em meio a uma das maiores crises mundiais, o que deverá afetar todos os fabricantes com modelos de ultra-longo curso, como a Dassault e a família Global, da Bombardier.

Gulfstream
Gulfstream G650

Edmundo Ubiratan
Publicado em 23/01/2012, às 12h34 - Atualizado em 27/07/2013, às 18h45


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