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Os desafios de uma nova tecnologia

Suspensão das operações do mais moderno avião já produzido pela Boeing, o 787 Dreamliner, deflagra investigação das pequenas, leves e eficientes baterias de íon-lítio


Companhias aéreas ao redor do mundo trabalharam arduamente para rearranjar seus voos depois que Europa, Japão, Índia, Qatar e Chile se juntaram aos Estados Unidos na suspensão dos voos do jato Boeing 787 Dreamliner, para investigação de problemas relacionados às baterias de íon-lítio e aos vazamentos de combustíveis. O revolucionário avião, produzido com compósitos de carbono, apresentou nas últimas semanas uma sequência de anormalidades envolvendo quatro companhias aéreas. Com modelos da All Nippon Airways (ANA), houve um pouso de emergência após sinais luminosos indicarem algo errado em uma bateria - levantando preocupações sobre o uso de baterias de íon-lítio no modelo -, problemas com sistema de alerta dos freios, um incidente com uma janela de cabine, que trincou em pleno voo, e um vazamento de óleo. A Japan Airlines (JAL) constatou vazamentos de combustível em um de seus Dreamliners e registrou um princípio de incêndio depois do pouso. Antes disso, ainda em dezembro de 2012, um 787 da United Airlenes realizou um pouso de emergência motivado por pane no painel, mesma ocorrência que levou a Qatar Airways a retirar um de seus modelos de operação antes da suspensão gerneralizada dos voos do Dreamliner.

Após os incidentes, a Agência Federal de Aviação (FAA), dos Estados Unidos, decidiu manter em terra, temporariamente, um dos mais novos aviões comerciais da Boeing - o outro é o 747-8I - até que ficasse demonstrado que as baterias de íon-lítio eram seguras antes que os jatos pudessem voltar a voar. Até o fechamento desta edição, as aeronaves continuavam em solo. A última vez que a FAA havia "groundeado" um modelo de avião tinha sido no final da década de 1970. Após um incidente e três desastres aéreos, e a constatação de falhas no sistema de travamento de uma das portas de carga do avião, a agência supendeu as operações do Douglas DC-10.

Com a maior parte da frota do Dreamliner em solo, o foco de engenheiros e autoridades durante as inspeções de urgência se deu, principalmente, em torno das baterias e dos complexos sistemas eletrônicos do modelo, que exigem um mecanismo eficiente de proteção contra superaquecimento. Jim McNerney, executivo-chefe da Boeing, enviou um comunicado em que reafirmou o compromisso com a FAA "para encontrar respostas o mais rápido possível". O executivo afirmou que a empresa trabalha "dia e noite com clientes e agências reguladoras" para provar que o modelo 787 é seguro. Em suas palavras: "Temos confiança na segurança do 787 e em sua total integridade".

Desde 7 de janeiro, as companhias aéreas japonesas ANA e JAL - as primeiras a utilizar o Boeing 787 - registraram sete incidentes. A ANA tem 17 aeronaves do modelo enquanto a JAL possui sete. Segundo a Mizuho Securities, manter todos os 787 em terra pode implicar em custo somente para a ANA mais de US$ 1,1 milhão por dia. A LAN, companhia aérea chilena que uniu suas operações à brasileira TAM, suspendeu os voos com suas três aeronaves Boeing 787. Os aviões da LAN operavam nas rotas Buenos Aires/Santiago, Santiago/Lima e Santiago/Los Angeles. A LAN prevê a aquisição de 32 aviões Boeing 787 nos próximos 10 anos em um investimento de US$ 4,9 bilhões, um dos mais importantes realizados pela companhia, diante de sua recente fusão e do aumento progressivo do tráfego aéreo no Chile. A empresa polonesa LOT, única europeia a ter o avião em sua frota, havia feito a viagem inaugural da aeronave poucos dias antes da diretiva de aeronavegabilidade da FAA, de Varsóvia a Chicago.

O rollout do Dreamliner aconteceu no dia 8 do mês 7 de 2007 (em inglês, 787), propositalmente, enquanto o primeiro voo foi realizado apenas em 15 de dezembro de 2009 e a entrada em serviço, em 26 de outubro de 2011, anos depois das datas previstas no início do projeto. Nesse processo houve transferência de engenheiros do programa 747-8 para engrossar as fileiras dos profissionais que já trabalhavam no Dreamliner com a finalidade de acelerar seu projeto e sua construção.

LAPTOPS E CELULARES
As baterias de íon-lítio já eram conhecidas por apresentar padrões de aquecimento diferentes. A Boeing informou que as falhas nas baterias resultaram na liberação de eletrólitos inflamáveis, provocando calor e fumaça e que as causas das falhas estão sendo investigadas. "Caso não sejam corrigidas, essas condições poderão resultar em danos à estrutura e a outros sistemas, além de um potencial incêndio no compartimento elétrico", informou a FAA.

As baterias de íon-lítio usadas no Boeing 787 Dreamliner são fundamentais para o projeto da aeronave, que tem de ser 20% mais leve e consumir menos combustívels do que os jatos mais antigos. Esse tipo de bateria tem uma densidade de energia excepcionalmente alta, o que significa que elas podem ser menores e, consequentemente, mais leves, produzindo a mesma quantidade de energia que as bateria tradicionais. Todos os jatos têm baterias, mas o Dreamliner necessita de exemplares especialmente "possantes", pois os seus sistemas de controle são totalmente acionados por impulsos elétricos, em lugar dos controles hidráulicos utilizados nos jatos de gerações anteriores.

Para atender à necessidade de leveza e alta potência, os projetistas optaram pela mesma tecnologia de íon-lítio utilizada nas baterias da maioria dos modernos celulares e laptops, nos quais as necessidades são quase semelhantes, mas em escala muito menor. As bateria de íon-lítio têm outra grande vantagem: elas podem ser moldadas em várias formas. Essa flexibilidade faz com que as baterias possam ser projetadas para se encaixarem nos lugares mais estranhos, o que é importante quando o espaço é fundamental.

A Boeing está investindo pesado no 787 Dreamliner e necessita vender 1.100 aeronaves nesta década para atingir o "break-even". Junto com a sua rival, a europeia Airbus, ela domina o mercado da aviação comercial do mundo.

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MAIS DE 800 ENCOMENDAS
DESTE TOTAL DE PEDIDOS, BOEING JÁ ENTREGOU
49 AERONAVES EM QUATRO CONTINENTES

Até a suspensão das operações do 787, a Boeing havia vendido 848 unidades do Dreamliner, 49 das quais haviam sido entregues, sendo 24 delas em operação no Japão. O restante está em poder de companhias aéreas de Índia, Chile, Polônia, Qatar, Etiópia, e Estados Unidos. Até hoje, nenhuma companhia aérea brasileira fez encomendas desse jato e nenhuma empresa estrangeira voa para o nosso país com ele.


Santiago Oliver
Publicado em 29/01/2013, às 09h33 - Atualizado em 27/07/2013, às 18h45


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