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A origem dos vant

As primeiras aeronaves não tripuladas tais como as conhecemos hoje surgiram logo após o fim da Segunda Guerra


Embora o uso de drones pareça um assunto recente, a aplicação de veículos aéreos não tripulados remonta ao século 19, quando os austríacos carregavam com explosivos balões sem tripulantes para atacar alvos em Veneza. Antes mesmo da Primeira Guerra, alguns engenheiros estudaram uma forma de levar um artefato explosivo pelo ar até um alvo distante dezenas de quilômetros, o que posteriormente levou à criação dos mísseis. Em 1915, o engenheiro Nikola Tesla descreveu em um estudo o potencial militar de uma frota de veículos de combate aéreos não tripulados.

Apesar dos esforços, o primeiro drone moderno surgiu apenas em 1951, quando a Ryan Aeronautical Company (a mesma que construiu o NYP “Spirit of St. Louis”, que cruzou o Atlântico Norte em 1927) passou a desenvolver o Firebee, um drone a jato destinado a servir como alvo aéreo. O objetivo dos militares norte-americanos era adestrar os pilotos de caça para a nova geração de aeronaves que surgia no início da década de 1950, frota esta que, devido à alta performance e à inexistência de mísseis de elevada precisão, exigia grande perícia nos engajamentos. O primeiro modelo, batizado Q-2A, era impulsionado por um motor turbojato Continental J69-T-19B, que desenvolvia 1.060 lbf (4.7 kN) de potência e ultrapassava os 500 kt.

O artefato era lançado de um Douglas A-26 Invader especialmente modificado e permitia um nível de simulação extremamente alto. O bom desempenho do Q-2A levou ao desenvolvimento de uma segunda geração do Firebee, o BQM-34A. O modelo contava com uma série de melhorias, com destaque para o sistema de controle auxiliado por computador. O BQM-34A era capaz de voar a 700 nós, numa altitude máxima de 60.000 pés, por 1 hora e 15 minutos e podia realizar curvas com até 7 g.

Guerra Fria e Vietnã

Essa geração podia ser lançada do solo, de uma plataforma que lembrava a utilizada pelas bombas V1, ou de um DC-130 Hercules adaptado, que transportava até quatro unidades de uma só vez. O controle dos drones era realizado por uma equipe a bordo do DC-130, por meio de um precário datalink. Ainda rudimentar, o sistema se mostrou extremamente eficiente nas simulações de combate, o que levou o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos EUA, a estudar o potencial dos drones em outros tipos de missões. Na década de 1960, a Guerra Fria atingia seu ápice, com ameaças cada vez mais perigosas de ambos os lados. Os americanos se esforçavam para monitorar o desenvolvimento soviético e acompanhar toda e qualquer movimentação militar do bloco comunista. Todavia, o custo e os riscos se tornavam cada vez maiores. Em 1º de maio de 1960, os soviéticos abateram um Lockheed U-2 sobre seu território. Em 1962, em plena crise dos mísseis, um U-2 foi abatido pelo exército cubano. Tais fatos demonstravam que as defesas aéreas inimigas estavam cada vez mais preparadas para enfrentar a invasão, mesmo que a elevadas altitudes, das aeronaves de espionagem americanas. O emprego dos Blackbird (A-12 e SR-71) se mostrou um sucesso, mas o risco de perder uma dessas aeronaves sobre os territórios soviético ou chinês levou ao desenvolvimento do Lockheed D-21, um drone de reconhecimento supersônico que podia ser lançado por um SR-71 especialmente modificado. Um acidente durante um dos lançamentos, porém, forçou a USAF a adaptar um B-52 para executar a missão de lançamento do modelo. Mesmo obtendo excelentes resultados, o D-21 apresentava algumas deficiências e o surgimento de novos satélites de espionagem levou ao cancelamento do programa, em 1971, apenas dois anos após entrar em serviço.

Primeiros drones surgiram como alvos aéreos, destaque para o Firebee (acoplado à asa do Hercules no destaque acima e decolando de modo autônomo no alto) e o F-16 convertido

Enquanto o D-21 era aposentado, o BQM-34 Firebee se mostrava um importante veículo de reconhecimento durante a Guerra do Vietnã. Por ser um alvo extremamente difícil para se abater, os americanos o empregaram em mais de 30.000 operações de reconhecimento fotográfico. O Firebee em algumas versões podia voar por oito horas, realizando até missões pré-programadas e voando de forma autônoma em algumas rotas. O Firebee também teve grande importância na Guerra do Yom Kippur, quando Israel empregou um Ryan 124R como cavalo de Troia. Em uma dessas missões, um Firebee pilotado remotamente conseguiu atrair impressionantes 32 mísseis inimigos e sair ileso, permitindo que a aviação israelense neutralizasse diversas baterias antiaéreas. O último emprego da série Firebee ocorreu na operação Iraqi Freedom, quando a aeronave foi utilizada para estabelecer corredores de chaff em território iraquiano. Desde então, as aeronaves não tripuladas ganharam destaque nas operações militares, passando a atuar não apenas como aeronaves de reconhecimento, mas também de vigilância e ataque.

Localizar, confirmar e atacar

Uma das vantagens dos drones na guerra moderna, em especial contra insurgentes, é sua capacidade de localizar, confirmar e atacar o alvo. Num passado recente, missões em guerra irregular previam reconhecimento via satélite, presença de aeronave de vigilância na área do alvo e confirmação da identidade ou alvo para, só então, uma missão armada efetuar o ataque. Esse processo, muitas vezes, envolvia centenas de pessoas e consumia dezenas de horas, tornando a operação arriscada ou mesmo inviabilizando o ataque devido ao tempo decorrido.

Embora ainda envolva o reconhecimento, via satélite em alguns casos, uma missão com drones pode realizar o ataque assim que a identidade do alvo é confirmada, já que a aeronave não tripulada consegue permanecer em voo por longas horas monitorando a área da ação. Porém, mesmo tendo uma série de virtudes nesse tipo de missão, os militares passaram a sofrer com dois graves problemas. O primeiro relacionado a falhas de equipamento. Alguns estudos mostram que os drones, incluindo os mais novos, são duas vezes mais sensíveis a sofrer falhas mecânicas catastróficas do que as aeronaves tripuladas. Além disso, após realizar uma ofensiva contra um alvo, o piloto continua sobrevoando o local para confirmar o cumprimento da missão, vendo em detalhes mínimos o resultado do ataque, incluindo fragmento de corpos. Numa ação tradicional, após o ataque, o piloto retorna à base e a incumbência de verificar a destruição do alvo é das equipes de inteligência, acostumadas aos cenários mais tenebrosos.

Atualmente, os drones têm demonstrado enorme efetividade contra insurgentes e instalações pouco protegidas, mas se mostram extremamente limitados em conflito convencional, ao terem de voar em zonas altamente protegidas e contra inimigos bem armados. Analistas não acreditam que, no futuro, quando as guerras serão mais centradas em rede, os drones atuais tenham algum sucesso. Não seria difícil para uma nação relativamente desenvolvida criar uma poderosa rede de interferência de dados, que neutralizaria o voo de aeronaves não tripuladas pilotadas remotamente ou com capacidade de voo autônomo. “Uma interferência magnética ou um embaralhamento nas principais frequências de rádio seriam suficientes para inutilizar qualquer drone existente hoje”, afirma o coronel Michael Endres. “O desafio é criar sistemas que sejam blindados a esse cenário”.

Por Edmundo Ubiratan, de Washington (D.C.) e Pasadena (CA)
Publicado em 23/01/2015, às 00h00


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