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Wide body chinês

Jato dos sonhos dos chineses ainda está longe de virar realidade

Widebody do país pretende concorrer com o Boeing 737 e o Airbus A350


A indústria estatal chinesa têm o ambicioso plano de fabricar, junto com a russa United Aircraft, um jato comercial de longo alcance, apto a concorrer com os já estabelecidos modelos comerciais do Ocidente, como o Boeing 787 e o Airbus A350. A aeronave sonhada pelos chineses deve transportar até 280 passageiros a distâncias de até 12.000 km. O caminho a ser percorrido pela fabricante, porém, ainda é bastante longo e cheio de obstáculos.

O C919 vem enfrentando problemas e já está atrasado em três anos com relação ao primeiro voo de testes. Quando a aeronave consiguir um desempenho comercial, ela poderá, ao menos, contar com um mercado garantido. Mas, para vender seu potencial jato de dois corredores, o problema é bem maior: envolve convencer as autoridades aeronáuticas de outros países de que a China pode fabricar aviões comerciais seguros.

Por um lado, a China conta com duas grandes vantagens: seu mercado de aviação doméstica está crescendo rapidamente e deverá ser o maior do mundo em 2035; e o domínio das companhias aéreas pertencentes pelas agências estatais que controlam a COMAC, o que significaria que os fabricantes locais terão uma posição favorável para exercer pressão sobre potenciais clientes.

Por outro lado, aviões comerciais e seus motores estão entre os mais complexos produtos já fabricados. O turbofan Pure Power da Pratt & Whitney, por exemplo, levou cerca de 25 anos antes de entrar em serviço em 2013. Airbus e Boeing já estão exauridos pelo esforço dispendido em acompanhar as evoluções tecnológicas de novos materiais. Em ambos, cerca de 50% da célula é constituída por materiais compostos como fibras de carbono.

E a vida dos desafiantes dos “dois grandes”, como a do C919, são ainda mais dura: a canadense Bombardier planejou detonar o duopólio de curto alcance dos Boeing 737-600 e Airbus A318 quando começou a desenvolver o jato comercial CSeries, em 2004. Passada mais de uma década, a indústria canadense precisou de uma injeção de US$ 1 bilhão do governo de Quebéc para prosseguir com seus planos.

Vale lembrar também que a Airbus recebeu sua primeira encomenda de uma companhia aérea norte-americana após 17 anos de existência e de uma congênere japonesa somente em 2013. Além de ter precisado de 30 anos para tornar-se uma ameaça séria para a Boeing. Considerando-se todos estes fatos é possível concluir que as ambiciosas pretensões da COMAC têm a ver, principalmente, com orgulho nacional.

Ernesto Klotzel
Publicado em 10/11/2016, às 16h24 - Atualizado em 11/11/2016, às 12h48


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