AERO Magazine
Busca

Era de Confusões

O impacto do Brexit para empresas aéreas e fabricantes aeronáuticos britânicos

Saída do Reino Unido da União Europeia deve afetar principalmente companhias low cost como easyJet e Ryanair, além de criar dificuldades para o grupo IAG e a própria Rolls-Royce


Com a criação da União Europeia, as empresas aéreas do bloco passaram a fazer parte da chamada ECAA (European Common Aviation Area), uma extensa região de céus abertos que inclui, além dos países-membros da UE, Bósnia Herzegovina, Croácia, Islândia, Kosovo, Macedônia, Motenegro, Noruega e Sérvia.

Com isso, as empresas aéreas com sede nos países do bloco europeu podem voar livremente no ECAA, seja entre seus países-sede, ou mesmo entre países-membros. Ou seja, uma empresa britânica pode voar para qualquer país da comunidade europeia sem qualquer tipo de restrição, ou mesmo oferecer voos entre duas cidades em países diferentes do Reino Unido. Nesse caso, a empresa, mesmo sendo britânica, pode voar entre Paris e Frankfurt, ou uma empresa italiana pode voar entre Londres e Oslo. Tal operação tem favorecido especialmente as companhias low cost, como a Ryanair e EasyJet, que conquistaram grande parte do mercado europeu.


A comunidade europeia ainda garantiu uma série de acordos bilaterais entre seus Estados membros e países diversos, incluindo acordos de céus abertos ou maior flexibilidade de rotas, que englobam parcerias com os Estados Unidos, China, Brasil, Turquia e diversos países do sudeste asiático.

A criação do ECAA foi fundamental para a reestruturação das empresas aéreas europeias, permitindo a criação de grandes grupos como a Lufthansa, Air France-KLM e mais recentemente a IAG (International Airlines Group), que engloba a British Airways, Iberia, Vueling e Aer Lingus.
Além disso, permitiu a expansão dos serviços low cost por todo o continente. Nesse caso, a maior parte do mercado de baixo custo pertence a duas empresas britânicas, a irlandesa Ryanair e a inglesa easyJet.

A saída do Reino Unido da União Europeia terá grandes consequências às empresas britânicas, especialmente as de baixo custo, que dependendo dos acordos políticos a serem firmados para permitir a saída do país da comunidade europeia, podem significar uma negociação particular para cada rota. Além disso, muitas nações que possuem acordos com a União Europeia podem exigir uma negociação particular com os britânicos.

Outro impacto significativo deve ocorrer para a IAG, já que duas de suas empresas controladas possuem membros em Estados da comunidade europeia. Sua criação só foi possível graças à inexistência de barreiras para empresas europeias se fundirem e manterem suas operações espalhadas pelo bloco. Com o Brexit, provavelmente os britânicos terão de negociar cada caso em particular, perdendo competitividade ou exigindo o fim de diversas parcerias. A Virgin Atlantic provavelmente também será afetada, embora parte de seu fluxo seja oriundo de conexões geradas por voos procedentes de países europeus.

Os defensores do Brexit que atuam na aviação afirmam que os danos serão menores do que os ganhos, pois agora o Reino Unido poderá negociar particularmente cada caso. Um dos objetivos dos partidários da saída do país da comunidade europeia é a possibilidade de vetar o crescimento do chamado Middle East Big 3, que é um dos enormes aportes feitos por empresas árabes nas companhias europeias. Além disso, acreditam que poderão bloquear o crescimento de empresas low cost de longo curso que utilizam o Reino Unido como parte de suas operações, como no caso da Norwegian Air Shuttle, que possuía uma grande parte de seus voos concentrados no aeroporto de Londres Gatwick. Entretanto, a Qatar Airways é uma das maiores acionistas individuais da IAG, o que deve tornar o processo um pouco mais complexo. Além disso, as maiores prejudicadas numa tentativa de barrar as empresas de baixo custo são as britânicas easyJet, Vueling e Ryanair, que terão o mesmo tipo de tratamento em acordos bilaterais.

Por fim, outro entrave ao Brexit envolve o conglomerado Airbus e a Rolls Royce. Atualmente, parte do capital da Airbus é britânico, embora o impacto gerado na saída do país não impacte na participação britânica no capital da Airbus. O maior impacto será relacionado à Roll Royce. O fabricante de motores tem sido favorecido em novos projetos por ser uma empresa da comunidade europeia, o que torna interessante politica e economicamente manter os acordos de desenvolvimento entre as empresas do bloco. A saída do Reino Unido pode favorecer gigantes norte-americanos como a GE e a Pratt & Whitney, que estariam agora competindo com uma empresa também de fora da comunidade europeia.

Os impactos do Brexit ainda não foram totalmente mensurados e uma série de acordos políticos podem mudar o cenário, que por ora, tende a ser pouco favorável aos britânicos.

Redação
Publicado em 29/06/2016, às 17h19 - Atualizado às 18h36


Mais Notícias