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Nasce a Latam

Lan e TAM unificam marcas e esquentam discussão sobre a participação de capital estrangeiro nas companhias aéreas brasileiras


Layout do  novo A350Layout do novo A350

Quase cinco anos após a fusão entre a chilena Lan e a brasileira TAM, as empresas anunciam a integração completa das marcas, assumindo justamente o nome Latam. A nova marca reunirá todas as companhias de passageiros e de carga que hoje integram o grupo, ou seja, mudarão de nome Lan Airlines, Lan Peru, Lan Argentina, Lan Colômbia, Lan Equador, TAM Linhas Aéreas, TAM Transportes Aéreos Del Mercosur, Lan Cargo, Lan Cargo Colombia, ABSA (TAM Cargo) e Mas Air.

A unificação das marcas decorre da decisão do grupo de integrar os serviços de todas as suas empresas. O custo estimado para a adoção da nova marca será de US$ 40 milhões, sendo quase 90% desse valor correspondente à repintura dos aviões e à adoção dos novos uniformes. Para a criação da nova marca, incluindo a identidade visual, o grupo Latam escutou mais de 3.000 clientes e 400 funcionários de diversas aéreas, além de contar com a consultoria de empresas especializadas. De acordo com Jerome Candier, vice-presidente de Marketing do grupo, um dos desafios foi reunir numa mesma identidade duas marcas conceituadas, a Lan com 86 anos de história e a Tam com 39 anos.

“Diante de todas as opções, a marca Latam sempre nos pareceu o caminho mais natural como resultado da união das marcas LAN e TAM, mas era necessário um tempo de conhecimento mútuo e amadurecimento para tomar esta decisão”, disse durante o anúncio Mauricio Amaro, presidente do conselho de administração do grupo.

Com duração prevista para três anos, a mudança da imagem corporativa será percebida de maneira gradual a partir do primeiro semestre de 2016 em aeronaves, espaços físicos, escritórios comerciais, balcões, páginas da internet, uniformes e assim por diante. Algumas mudanças, porém, já são visíveis, principalmente nas cabines anunciadas recentemente, os novos lounges em São Paulo e Santiago e no entretenimento de bordo dos dispositivos móveis.

A alteração da frota de aeronaves precisará do maior prazo para ser concluída, pois os modelos atualmente em serviço serão repintados conforme forem ocorrendo suas manutenções programadas. As aeronaves novas que saírem da fábrica a partir de 2016 já ostentarão as novas cores. O primeiro Airbus A350 XWB da TAM, que deve chegar ao Brasil em dezembro próximo, ainda trará as cores da companhia brasileira. “O processo já estava em andamento na Airbus quando definimos a nova identidade”, explica Claudia Sender, presidente da TAM. “O processo para mudar a pintura ou o interior de uma aeronave nova exige um planejamento de 12 a 18 meses junto ao fabricante”.

Os programas de milhagem permanecerão independentes nos próximos anos, pois a unificação exigiria a integração completa de todos os sistemas. “Os programas [de milhagem] permanecerão como estão. É um processo mais complexo e que envolve outras empresas”, justifica Cardier.

Embora o grupo tenha unificado a marca, por questões legais e estruturais, as empresas continuarão mantendo suas operações independentes com estruturas jurídicas próprias. As restrições relacionadas a regulamentações aeronáuticas, leis trabalhistas e tributárias não permitirão, ao menos no médio prazo, uma unificação total das empresas. Mas a lei no Brasil pode mudar. A Comissão da Reforma do Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA) aprovou, no último dia 17 de agosto, a inclusão da recomendação de abertura de 100% do capital das empresas aéreas brasileiras ao capital estrangeiro em seu relatório para o Senado. A regra em vigor limita a participação de capital externo em 20%, porcentagem próxima à adotada em diversos países do mundo.

A proposta que permite total controle estrangeiro de empresas aéreas brasileiras ainda está em tramitação no Congresso. Depois de aprovado na comissão de especialistas, o anteprojeto será transformado em projeto de lei a ser analisado pelo Senado e pela Câmara dos Deputados. Com a mudança, muitos analistas consideram possível a criação de uma marca unificada, como é o caso da Latam. Para o grupo, a proposta seria uma forma de reduzir os custos ao centralizar toda a operação numa única estrutura. No entanto, o projeto em tramitação no Senado não inclui a possibilidade de intercambio de aeronaves, mantendo a obrigatoriedade do registro brasileiro para qualquer aeronave que opere no país. Na ocasião da mudança da marca, o grupo Latam evitou comentar sobre o interesse de uma unificação completa das duas empresas. “Continuamos operando duas empresas sob uma mesma holding”, esclarece Sender.

As regras para uma eventual abertura total ao capital estrangeiro ainda não foram definidas. O projeto poderá contar com uma abertura gradual, como forma de favorecer a adaptação das empresas às novas regras. Atualmente, além do grupo Latam, a Azul e a Gol possuem parte do seu controle de capital nas mãos de United Airlines e Delta Air Lines, respectivamente. Uma eventual abertura poderia favorecer ambas as empresas. A Avianca Brasil é controlada pelo grupo brasileiro Synergy, que também possui o controle acionário da Avianca Internacional, com sede em Bogotá, na Colômbia.

Esse modelo multinacional, adotado por algumas empresas, é uma das defesas dos que apoiam o projeto de abertura do capital estrangeiro. O argumento é que o projeto não implica em prejuízos à soberania nacional e pode ajudar as companhias a se capitalizarem. Segundo o presidente da CBA no Senado, o advogado Georges Ferreira, o assunto ainda “não está exaurido”. Na ocasião da aprovação da proposta, Ferreira afirmou que “ainda teremos o texto da comissão, da comissão jurídica e da própria Consultoria do Senado. Até lá vamos recomendar o modelo adequado”.

O Sindicato Nacional dos Aeronautas divulgou uma nota de repúdio a qualquer recomendação de abertura de 100% do capital das companhias aéreas brasileiras ao capital estrangeiro. “Essa mudança pode acarretar, em médio prazo, a extinção das empresas aéreas nacionais, uma diminuição considerável dos postos de empregos para brasileiros e a submissão do país aos interesses das companhias estrangeiras”, resumiu o comandante Alexandre Castanho, presidente do SNA.

Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 03/09/2015, às 00h00


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