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Mudança de hábitos

Os atentados terroristas nos Estados Unidos transformaram para sempre a rotina do transporte aéreo em todo o mundo


O dia 11 de setembro de 2001 marcou de forma indelével a história da aviação e se revelou o episódio mais significativo nesses 20 anos de existência de AERO Magazine. Os atentados terroristas em território norte-americano com uso de aviões comerciais como verdadeiros mísseis para destruição em massa mudaram a rotina de passageiros, funcionários de aeroportos, pilotos e comissários de bordo no mundo inteiro.
Depois daquela fatídica terça-feira, o “pente-fino” nos aeroportos pôs fim ao que ainda restava da aviação romântica. As inspeções com raios X tornaram-se ferramenta essencial nos terminais e nas áreas de manuseio de bagagem, assim como os pórticos detectores de metais. Alguns aeroportos chegaram ao ponto de instalar cabines para varredura de fragmentos de explosivos. Nelas o passageiro é literalmente borrifado dos pés à cabeça. Ao mesmo tempo, as autoridades baixaram uma lista de produtos proibidos para embarque na bagagem de mão dos passageiros. Garrafa de água, nem pensar, muito menos lata grande de espuma de barba.

Percebi que as viagens aéreas não seriam mais como antigamente quando cheguei aos EUA alguns dias depois dos atentados de 11 de setembro. Em Miami, soldados armados com fuzis patrulhavam os terminais vazios do aeroporto. No setor de embarque, revistas intermináveis e muitas perguntas.

A rotina na cabine de comando mudou bastante após os atentados de 11 de setembro, começando pela porta de acesso ao cockpit, que hoje é blindada e só pode ser aberta pelo piloto ou, externamente, com uso de um código digitado pelo comissário, em situação de emergência, caso não haja resposta a uma chamada dos aeronautas via interfone. Nos EUA, algumas companhias aéreas também instalaram uma grade móvel, que é fechada pelo comissário quando um dos pilotos precisa ir ao toalete dianteiro.

As visitas às cabines de comando também foram abolidas nos EUA por determinação da FAA, que é muito rigorosa nesse controle e pode multar uma empresa caso observe gente que não tenha ligação com o voo ocupando os assentos de reserva na cabine de comando. A fiscalização é realizada a partir de lugares estratégicos nos principais aeroportos norte-americanos. Além disso, a lista com o nome dos tripulantes envolvidos na operação de um voo internacional deve estar devidamente preenchida e todos, sem exceção, devem passar pelo check de impressões digitais, uma novidade que também foi incorporada após os ataques. Outras companhias acabaram acatando a recomendação e hoje poucas permitem o acesso de pessoas que não são ligadas ao voo, mesmo que sejam funcionários de terra.

Os pilotos pertencentes às companhias aéreas internacionais, que mantêm linhas regulares ou de fretamento para qualquer destino nos EUA, devem estar atualizados quanto às principais regras do ar, obedecendo às recomendações para desvios meteorológicos e sobrevoo de áreas restritas e sabendo como proceder em caso de interceptação por caças. Uma falha de contato entre um voo e os órgãos de controle pode ser crítica, levando em conta que os terroristas deixaram de se comunicar com os controladores de voo quando assumiram o comando dos aviões em 2001. 

No caso da interrupção de contato, o piloto deve imediatamente procurar uma frequência de rádio alternativa, informada nas cartas aéreas, ou a frequência de emergência (121.5 MHz) para transmitir a posição atual da aeronave. Isso, na realidade, vale para qualquer lugar do mundo, mas, nos EUA, a coisa é bem mais séria. Existem até restrições para o pouso em determinados aeroportos caso a falha de comunicação persista. Em janeiro de 2011, um Boeing 777-200 da United Airlines, que decolou de Chicago para Frankfurt, na Alemanha, acabou pousando em emergência na cidade de Toronto, no Canadá. Houve problemas de comunicação e um verdadeiro alvoroço se instaurou. A causa da falha no sistema de rádios do voo 940 da United Airlines, não confirmada oficialmente pela companhia, teria sido uma xícara de café “virada” acidentalmente por um dos pilotos sobre o equipamento de comunicação.

Pessoalmente, tive uma experiência menos tumultuada. Deixei sapatos e cintos na máquina de raios X, o relógio também, e o computador fora do estojo, antes de ouvir do funcionário da segurança: “Você tem algo de estranho no fundo de sua maleta”. Tira tudo, examina aqui e ali e, finalmente, ele encontra o que procurava: um pequeno tubo de corretor ortográfico líquido conhecido popularmente como “branquinho”.

Por Robert Zwerdling
Publicado em 18/05/2014, às 00h00 - Atualizado às 17h56


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